A ucraniana Lyudmila Pavlichenko (1916 – 1974) é considerada a atiradora que mais matou combatentes nazistas durante a 2ª Guerra. Foram 309 soldados alemães
combatidos por tiros de longa distância.
Em 1941, quando a Alemanha, liderada por Hitler, invadiu a União Soviética, Lyudmila, aos 24 anos, tornou-se voluntária, mas não acatou a sugestão dos recrutadores
militares, que queriam que ela fosse para a guerra como enfermeira. Seu desejo era ir para o front e participar ativamente, já que desde os 14 se preparava para isso.
Mesmo antes da Segunda Guerra, a União Soviética já incentivava suas mulheres,inclusive as crianças, a manusear armas. Em caso de invasão inimiga e com os homens em missão, elas poderiam garantir a proteção de suas famílias e terras. Lyudmila era membro da “Sociedade Voluntária de Cooperação com o Exército, Aviação e Marinha”,
estabelecida em 1927 com o objetivo de atrair jovens.
No livro “Heroínas da União Soviética”, em português, o autor Henry Sakaida narra que Lyudmila trabalhou em uma fábrica de armamentos e era membro de um clube de tiro,onde se aperfeiçoou ao longo dos anos. “Mais tarde, ela se juntou a uma organização paramilitar, onde aprendeu a saltar de paraquedas e a velejar”, acrescenta Sakaida.
Para provar sua habilidade com rifles e pontaria, Lyudmila, então, apresentou um certificado de proficiência de tiro e foi submetida a um teste. Só foi admitida e se juntou ao Exército Vermelho depois que apontou e acertou, na primeira tentativa e à longa distância, dois soldados romenos aliados dos nazistas.
A pesquisadora russa Lyuba Vinogradova conta em seu livro “Anjos Vingadores”, em português, que a União Soviética detinha, nessa época, mais de 2 mil franco-atiradoras,além de milhares de mulheres em postos de aviadoras, sapadoras (soldados
responsáveis por trabalhos de engenharia militar, como cavar trincheiras), artilheiras e operadoras de tanque.
Lyudmila foi enviada para Odessa, uma cidade costeira ucraniana, onde enfrentou nazistas por mais de dois meses e meio, até ir para a Moldávia e de lá para Sevastopol,na península da Criméia. Aos 75 dias na guerra, havia abatido 187 soldados inimigos.
“Era, naturalmente, muito mais difícil e traumático matar uma pessoa com uma espingarda do que em um avião”, afirma Vinogradova, lembrando que as francoatiradoras precisavam suportar, a cada disparo, o violento recuo da arma e o assédio e o abuso de colegas homens.
Durante meses de combate intenso, Lyudmila conquistou uma temida reputação de discrição e precisão. Recebia as tarefas mais perigosas, incluindo ataques envolvendo atiradores inimigos em duelos tensos que poderiam durar dias. Nessas situações, era
Além de Lyudmila, 2 mil franco-atiradoras se alistaram na guerra pela União Soviética obrigada a permanecer imóvel por horas para evitar a detecção e aguardar o tiro certeiro. “Um tremendo autocontrole e paciência. Além do frio, insetos, stresse, fome e sede constantemente a atormentavam”, diz Sakaida.
Título de heroína
Das mais de 2 mil franco-atiradoras soviéticas alistadas, não mais de 500 sobreviveram e voltaram para casa. Lyudmila saiu de cena precocemente, porque se feriu com uma explosão de morteiro, em junho de 1942. Àquela altura, em menos de um ano de guerra,já era tenente e havia combatido 309 soldados inimigos.
“O Alto Comando Soviético, então, viu valor de propaganda em Lyudmila Pavlichenko e a enviou em turnês motivacionais e de angariação de fundos”, observa o autor de “Heroínas da União Soviética”. Em agosto de 1942, já recuperada, viajou para o Canadá e fez uma excursão pelos Estados Unidos, onde conseguiu apoio para a guerra. Chegou a ser recebida pelo presidente Franklin Roosevelt na Casa Branca, algo até então inédito para um soviético.
Ao retornar para seu país, Lyudmila foi promovida a major e recebeu o título de Heroína da União Soviética. Além de treinar centenas de atiradores de elite até o final da 2ª Guerra, em 1945, continuou dando palestras sobre suas vivências e retomou seus estudos na Universidade de Kiev, onde se graduou como historiadora. Segundo Sakaida: Lyudmila morreu em 1974, aos 58 anos, depois de sofrer um AVC.