“Nós temos que lutar”, resumiu Antonia Antunes da Silva Reis numa entrevista ao Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas. “Não baixar a cabeça, fazer o que pudermos fazer, e lutar até o dia que Deus permitir.”
Foi com esse espírito que Tonha, como era conhecida a líder comunitária do Quilombo do Gurutuba, no norte de Minas Gerais, tocou projetos para melhorar a qualidade de vida daqueles povos tradicionais, de onde ela também vinha.
Um dos principais foi a Associação de Mulheres Quilombolas, criada por ela para aumentar a autonomia financeira das mulheres da região. A associação mantinha uma padaria com cozinha comunitária e plantava algodão agroecológico, entre outras coisas. Em parceria com uma rede atacadista de roupas, as mulheres voltaram a costurar com o algodão plantado, tradição que havia se perdido nas últimas décadas.
“Ficamos muito felizes de dar continuidade e visibilidade ao trabalho que já vinha dos nossos antepassados, dos nossos avós, bisavós”, disse numa entrevista na época.
“Cada dia que vai passando, nós percebemos que se nós tivermos condições de tocar, de poder funcionar, nós estamos com a vitória todinha na mão”, resumiu Antonia, sobre o trabalho da associação.
“Devido a essa correria toda dela, ela ajudou muita gente na região, de comunidades arredores”, diz sua irmã Elciene, que destaca o bom humor e a extroversão de Antonia.
Em 2011, ia às Festas de Agosto de Montes Claros, festejo tradicional da região, com outras lideranças para uma apresentação de batuque. A van virou e nove quilombolas morreram, entre eles o pai de Antonia. Ela machucou a cabeça e quebrou um braço, mas sobreviveu.
No último dia 1º de junho, se envolveu em outro acidente, dessa vez de moto, e morreu, aos 53 anos. Deixa o marido, três filhos e duas netas.
Da Folha de SP