Nana e suas amigas |
A maturidade com a chegada dos 30 anos e uma viagem com cinco amigas despertaram a vontade de Nana Darkoa Sekyiamah, uma escritora de Gana, de criar um espaço para que outras mulheres africanas compartilhassem seus desejos sexuais. Foi assim que, há 10 anos, nasceu o blog “Adventures from the bedroom of African Women” (Aventuras do quarto das mulheres africanas, em tradução livre).
“O objetivo era desenvolver um lugar seguro onde mulheres africanas pudessem discutir sobre sexo e sexualidade”, conta Nana, em entrevista a CNN. Entre os posts mais acessados, estão temas como literatura erótica LGBT, dicas para compartilhar nudes em segurança e um que tenta responder como é possível saber se uma mulher teve ou não um orgasmo.
Além do blog, Nana também trabalha como diretora de comunicação para a Associação de Direitos das Mulheres em Desenvolvimento, uma organização que apoia movimentos feministas mundo afora.
Sexo não é assunto incomum para quem vive em Accra, capital de Gana. Pelo menos não é incomum entre os homens. Anúncios no rádio e até mesmo pendurados nas paredes da cidade oferecem remédios para impotência. Porém, a própria língua do país revela um entendimento muito mais abrangente da sexualidade. A palavra “supi”, por exemplo, se refere a um relacionamento íntimo entre mulheres, sexual ou não. Enquanto isso, mulheres do maior grupo étnico do país, o Akan, têm direito a pedir o divórcio se não estão sexualmente satisfeitas pelo marido.
Muitos programas do governo e de instituições internacionais focam em saúde sexual e reprodutiva, mas ignoram o prazer da mulher. “As mulheres africanas são discutidas como vetores de doenças. A conversa é sempre sobre a necessidade do controle da fertilidade da mulher africana”, lamenta Nana. “Isso deixa muita coisa de fora, especialmente a importância de mulheres africanas controlarem seus próprios corpos. O prazer está conectado ao bem estar e a educação sexual é essencial para o desenvolvimento da mulher. Se você não tem controle sobre seu corpo, vai ter controle sobre o quê?”, questiona Nana.
O impacto do trabalho de Nana já é sentido a longo prazo. Depois de sofrer por anos com baixa autoestima, Maame Akua Kyerewaa Marfo decidiu organizar o Coletivo Feminista de Accra, que promove conversas e reunião sobre sexo e sexualidade. “Eu pareço essa feminista desbocada, mas sou virgem. Eu sempre fui essa garota negra, gorda, de pele escura. Me diziam que eu poderia ter sido bonita. Isso faz com que você deposite muito ódio no seu próprio corpo”, lamenta.
“Para mim, positividade sexual era tornar esse corpo desejável. Demorei muito tempo para tornar meu corpo um lar e me sentir confortável para convidar outros a virem até ele, mas nunca deixarei minha militância para fora”, defende Maame. O seu coletivo se tornou prova da mudança de comportamento em Gana desde a criação do blog de Nana.
Contudo, o custo destes espaços é grande para mulheres como Nana e Maame. Ter esse tipo de visibilidade num país religioso e que condena homossexualidade como um crime traz consequências negativas. “O fundamentalismo cristão está crescendo. Ameaça nossa integridade física. Mulheres LGBT de Gana têm que se reunir escondidas e esperar que ninguém dê com a língua nos dentes. Às vezes, precisamos de seguranças nos eventos”, admite Nana. A fala da escritora é comprovada. Um relatório do Human Rights Watch de janeiro de 2018 demonstra que declarações homofóbicas de oficiais do governo, cidadãos mais velhos e líderes religiosos fomentam a discriminação e incitam a violência.
Mesmo assim, ela não se desanima. “Sempre tive medo que as pessoas vissem meu blog como um site para entretenimento adulto, mas essa não era a minha intenção. Claro que ler sobre sexo naturalmente nos deixa excitados, mas este não era o ponto. O ponto é que as mulheres saibam que têm direito a ter prazer sexual”, conclui Nana.
do site Universa