“Você joga igual uma menina”
“Vai chorar feito mulherzinha?”
“Na prisão vão te tratar como namorada”
Confesso que durante um longo tempo, antes de sair da Matrix, não enxergava nesses “insultos” aos meninos nada de absurdo, apesar de sentir um incômodo que eu não sabia ao certo de onde vinha.
Até o dia que entendi que para um menino, ser comparado à uma garota era um insulto grave. Ser mulher (ou ser gay) era uma afronta maior que todas as outras possíveis. E pouca gente percebe o quanto de tóxico vem desse tipo de comparação.
Meu círculo próximo de homens, salvo poucas exceções, já compreendem que não é insulto ser comparado com uma mulher. Pelo contrário.
Mas voltemos ao que interessa.
Durante uma entrevista coletiva, o presidente Jair Bolsonaro deu novas demonstrações de que ainda é um menino que não saiu da 5ª série. Ao atacar o jornalista Glenn Greenwald, seu companheiro e deputado federal David Miranda, e o ex deputado federal Jean Wyllis, o presidente fez a seguinte declaração:
“Esse pessoal daquele casal né, aquele casal lá, um deles esteve detido na Inglaterra há pouco tempo por espionagem, o outro aqui tem suspeita de vender o mandato, e a outra, menina namorada de outro que tá lá fora do Brasil. É uma trama”, afirmou.
Pra começar o presidente tem todo o direito, enquanto cidadão, se indignar contra o que ele considera uma “trama” (uma trama criada por meio de uma fake news disseminada no twitter e que foi rapidamente descoberta). Mas além de cidadão, ele é presidente da República, um cargo que exige minimamente um discernimento de ideias e palavras.
Além de usar uma mentira pra defender seu ponto de vista, Bolsonaro chama o ex deputado de menina na tentativa de insultá-lo.
“Ao me tratar de ‘aquela menina’ como forma de me ofender e supondo que eu me ofenderia, o presidente tratou o gênero feminino (todas as mulheres) como algo desprezível, menor, subalterno, ou seja, para ele, é um insulto ser mulher”, disse Jean no seu perfil pessoal no twitter.
Concordamos com Jean.
Não somos menores.