Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2016 revela que a maioria dos brasileiros considera que o machismo é bom para os homens e as mulheres. Pode parecer absurdo, mas tanto homens e mulheres, dos gêneros masculinos e femininos, são uníssonos em concordar que todos se beneficiam por um comportamento que aprisiona, maltrata, violenta e que mata, inclusive os homens.
Converso há anos com um grande amigo que sempre me defende que o machismo está impregnado na sociedade e o maior exemplo é ele próprio. Ele foi criado em uma casa com mais dois irmãos e uma que não usava brincos, não se perfumava e não usava maquiagem. Ele só conseguiu abrir os olhos quando casou e teve três filhas.
E o choque dele não foi só na feminilidade e vaidades das meninas e de sua esposa. Foi perceber as veias abertas do preconceito. Seja com os meninos arengando na escola ou os comentários sexistas que sua esposa levava pra casa. E ele se enxergou que um dia riu daquilo.
E o machismo é tão cheio de contradições que, ao mesmo tempo que o “homem de bem” não permite que sua esposa use um brinco, se perfume, e use um batom vermelho, condena as feministas por não se “arrumarem”. E as feministas se arrumam, se depilam, se enfeitam, SE quiserem. E se NÃO quiserem, não precisam usar brinco, nem perfume, nem batom vermelho. Isso é decisão individual, nunca deve ser uma imposição, venha de que lado for.
O machismo mata.
As mulheres ainda precisam dizer que o lugar delas é onde quiserem, e não onde os homens decidirem.
Por conta disso, o país soma, dia após dia, casos e mais casos de feminicídio. Até uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi criada pela Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) para investigar os diversos casos já registrados e apontar caminhos para diminuir essas estatísticas.
O combate ao machismo tem que ser pensado de forma global, com políticas públicas e pessoas que entendam e são interessadas numa sociedade com equidade, igualdade de gênero e onde ninguém seja obrigado a nada. Mas políticas públicas não garantem mudanças estruturais e culturais, apesar de serem extremamente necessárias.
É na mudança de costumes que se faz essa revolução, e estamos na contramão disso tudo com o governo Bolsonaro. A agenda conservadora e o retrocesso nos discursos e comportamento que tem se mostrado atualmente não deve ser considerado como algo que veio após as eleições presidenciais. A essência machista, homofóbica e racista do brasileiro médio sempre existiu, mas ganhou uma força absurda com a representação política que temos hoje.
É uma luta inglória e desigual, mas ela é necessária e urgente.
E nessa batalha, ninguém solta a mão de ninguém.