Apesar dos avanços na redução das desigualdades em relação ao trabalho doméstico, podemos dizer que nos últimos 20 anos o país continuou estagnado nesse ponto. Enquanto as mulheres gastam em média 21 horas por semana para cozinhar, lavar, passar e organizar a casa, os homens trabalham a metade. Mesmo com todas as mudanças feitas na pesquisa de afazeres domésticos, listando pequenos reparos, trabalho mais praticado pelos homens, o número de horas não se mexe, de acordo com a pesquisa “Outras formas de trabalho”, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. Em 2001, era a mesma divisão.
– Aumentou o número de homens que fazem trabalho doméstico, mas o tempo dispendido continua o mesmo. No recorte pelo tipo de trabalho, os homens se dedicam a atividades mais leves como pequenos reparos enquanto a mulher lava, passa, cozinha, faxina a casa. Com os filhos, a mesma coisa. Eles saem para passear, mas quem dá comida, banho e põe para dormir são as mulheres – afirma Maria Lúcia Vieira, responsável pela pesquisa.
Mesmo que a mulher trabalhe fora, ela dedica praticamente o dobro do tempo aos afazeres domésticos, quando se compara com o homem. São dez horas de atividade masculina contra 18,5 horas da labuta feminina. Se o companheiro tiver desempregado, isso não significa maior empenho aos cuidados com a casa. A mulher que trabalha fora dedica seis horas a mais ao serviço doméstico do que o homem que não tem atividade remunerada.
“No caso de não ocupados, a diferença é ainda maior, chegando a quase o dobro as horas a mais dedicadas pelas mulheres (12 horas para homens e 23,8 horas para as mulheres)”, diz o texto da pesquisa.
O Nordeste é a região em que as diferenças entre homens e mulheres mais se acentuam: as mulheres dedicam 22 horas da sua semana ao trabalho doméstico, enquanto os homens destinam menos da metade: 10,4 horas.
Sobe parcela de homens que trabalham em casa
Apesar da desigualdade na jornada em ambiente doméstico, aumentou a parcela de homens que se dedicam aos afazeres domésticos no país. Eram 78,2% entre os que tinham 14 anos ou mais em 2018. No ano anterior, eles representavam 76,4% do total.
O avanço também foi percebido entre as mulheres. Em 2018, 92,2% delas cuidavam da casa contra 91,7% no ano anterior. Em termos absolutos, porém, elas são de longe a maioria. São 82 milhões de mulheres trabalhando em casa, contra 62 milhões de homens.
Quanto maior o grau de instrução, mais o homem se compromete com os trabalhos do lar. Entre os que têm superior completo, 85,4% se dedicam a afazeres domésticos. O percentual cai para 74,3% entre os que não têm instrução. Essa diferença não acontece com as mulheres. Independentemente do grau de instrução, mais de 90% delas cuidam da casa.
“Não existia grande diferença na realização de afazeres por nível de instrução, por esta taxa já ser bastante significativa: 90,1% das mulheres sem instrução ou com fundamental incompleto realizavam afazeres em 2018, proporção que era de 93,4% entre as mulheres com ensino superior completo”, diz a pesquisa.
do jornal O Globo