Alice Calmon, Lara Campos e Maria Clara Quintanilha |
Quando criança, a estudante Alice Calmon era embalada não pela literatura infantil, mas por livros de astronomia e sobre os mistérios do universo lidos pela mãe, Patrícia Medeiros, de 45 anos. O bisavô materno da jovem trabalhou por mais de 40 anos no Observatório Nacional. A influência familiar fez com que a menina crescesse — literalmente — com a cabeça nas nuvens. Mas ela não esperava que aos 17 anos iria realizar o sonho de participar de um programa aeroespacial nos Estados Unidos. O voo não é só dela. Lara Campos e Maria Clara Quintanilha Tavares, ambas de 16 e também alunas da rede pública, embarcaram com Patrícia nessa aventura, cujo destino é a Academia Nacional de Voo (ou National Flight Academy), na Flórida, nos Estados Unidos.
Lá, as três cariocas vão passar os próximos dias a bordo do maior porta-avião simulado do mundo, numa imersão no universo científico, em companhia de mais sete brasileiros, de outros estados, além de jovens do mundo todo. Durante o curso, elas participarão de discussões sobre carreiras ligadas a ciência, tecnologia, engenharia e matemática — área do conhecimento identificado pela sigla STEM (Science, Technology, Engineering e Mathematics). O grupo brasileiro, do qual as meninas fazem parte, viajou na sexta-feira, num voo de nove horas de duração, com escala em Atlanta. A volta está programada para o próximo fim de semana.
Mas o caminho até os EUA teve ao menos um grande percalço. Após participarem de uma concorrida seleção em nível mundial, as meninas ganharam uma bolsa de estudos da ONG Junior Achievement em parceria com a multinacional Delta, que cobre os gastos com inscrição no programa, alimentação e hospedagem. O problema era como chegar na Flórida, já que as passagens em torno de R$ 25 mil, para as três, ficaram de fora dessa cobertura. A primeira ideia foi recorrer a uma vaquinha virtual, que estacionou em 32,7% (R$ 8,1 mil) da meta. Graças a uma ajuda da companhia aérea Gol, o problema foi resolvido. Agora, a ideia é destinar parte do dinheiro do crowdfundig para doação.
— Quando voltarmos, vamos dar satisfação aos doadores. Vamos retirar os custos com visto e passaporte e o restante pretendemos doar para uma causa que envolva a ciência — promete Maria Clara.
A expetativa com a viagem fez com que o trio tivesse dificuldade em pregar os olhos na véspera do embarque. Não era para menos. Elas nunca tinham ido tão longe de casa.
— Será um peso e tanto no currículo — avalia Lara.
A moradora do Largo do Machado é colega de turma de Maria Clara, que mora em Ilha de Guaratiba. As duas estão no 2º ano do ensino médio na unidade Centro do Colégio Pedro II. A primeira, que gosta de empreendedorismo e música, pretende fazer algo ligado a administração, enquanto a segunda quer estudar ciência.
Oportunidade única
Alice Calmon é aluna do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, onde cursa o 3º ano, e a única das três que já tem certeza de que pretende seguir a área científica e tecnológica. Para isso, acredita que a experiência nos EUA será fundamental:
Alice Calmon é aluna do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, onde cursa o 3º ano, e a única das três que já tem certeza de que pretende seguir a área científica e tecnológica. Para isso, acredita que a experiência nos EUA será fundamental:
— Tem a ver com o que eu quero seguir, que é algo nas áreas de robótica e engenharia da computação. Sonho ter minha empresa numa dessas áreas, mas trabalhar na Nasa seria incrível.
Mãe da jovem, a assistente administrativa Patrícia Medeiros foi sua maior incentivadora. Ela acha que a filha realiza um sonho seu com a viagem:
— Minha expectativa é que seja bom para o futuro profissional dela. A oportunidade de viajar para fora é única para uma aluna de colégio estadual. Eu não teria condição de pagar. A experiência vai mostrar a outros jovens que é possível buscar o sonho.
O processo seletivo realizado em abril foi todo em inglês e pela internet. Estavam aptos para entrar os jovens que já participaram de alguma atividade da ONG e estavam no ensino médio.
— Todo aparato para a viagem já deu um nível de maturidade incomum na idade delas. Elas vão voltar diferentes, não só a nível técnico — aposta Michele França, coordenadora da ONG.
do portal Extra