Imagens de mulheres da Universidade Técnica de Eindhoven publicadas pela instituição ao anunciar sua política de contratação. |
Reitor da Universidade Técnica de Eindhoven quer maior equilíbrio de gênero e, durante o próximo ano e meio, só aceitará homens se não houver candidatas adequadas para cargos científicos
A Universidade Técnica de Eindhoven saiu em busca de maior equilíbrio de gênero entre seus cientistas e, durante o próximo ano e meio, só contratará mulheres em todas as categorias científicas. O currículo de seus colegas homens se aplicará quando não houver candidatas adequadas. A medida entrou em vigor em 1º de julho e espera-se que 20% das cátedras sejam ocupadas por mulheres em 2020. Cada posto terá um orçamento de 100.000 euros (cerca de 429.000 reais) para sua própria pesquisa e um mentor. O reitor deseja que 25% dos postos de professor titular e 35% dos assistentes sejam cobertos por mulheres.
O plano de contratação das novas professoras e pesquisadoras se chama Irène Curie Fellows em homenagem à ganhadora do Prêmio Nobel de Química em 1935 e é parte de um programa de cinco anos de duração em que haverá 150 vagas livres. Irène era filha de Marie Curie, a primeira e única mulher a receber dois prêmios Nobel (de Física e Química) e de seu marido, Pierre. O casal Curie também obteve o prêmio de Física em 1903. Das 14 universidades holandesas, a Técnica de Eindhoven é a que tem o menor número de catedráticas: uma em cada oito entre os 186 em exercício em 2018, de acordo com a Rede Nacional de Catedráticas.
“Sabemos há bastante tempo que uma força de trabalho diversificada dá melhores resultados, é mais criativa e facilita a inovação, e damos muita importância à igualdade de oportunidades”, disse Frank Baaijens, reitor em Eindhoven e especialista em biomecânica, que estudou na própria Universidade Técnica. A discriminação positiva é legal na Holanda sempre que houver grupos pouco representados em alguns setores e, no momento, apenas um em cada quatro alunos de doutorado em carreiras técnicas é mulher, calcula o Escritório Central de Estatística.
Os especialistas dessa entidade apontam que a maior diferença está em Ciência da Computação (com 14% de alunas), enquanto em Matemática e Ciências Naturais (por exemplo, Física, Química, Astronomia, ou Geologia) são 38%. “Não se trata de atraí-las porque é uma pena que não estejam, mas porque trabalhar com elas é uma fórmula para o sucesso futuro”, dizem porta-vozes da Rede Nacional de Catedráticas.
No final da semana passada, e durante a apresentação de seus planos, o reitor Baaijens admitiu que “nem todo mundo é partidário da discriminação positiva porque, do ponto de vista racional, não fazemos distinção entre homens e mulheres”. “No entanto, os estudos realizados a esse respeito mostram que essa distinção de gênero é feita inconscientemente. Na última década, fizemos o possível em Eindhoven para melhorar a porcentagem, embora sem resultados satisfatórios. Então, o novo tipo de contratação é necessário”, argumenta.
Rik Peels, pesquisador da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Livre de Amsterdã, é uma das vozes dissidentes que explicou sua rejeição no Twitter. “Como diz minha mulher, o plano é condescendente: como se as mulheres não conseguissem encontrar trabalho sozinhas”, diz, em um tópico aberto em sua conta pessoal. “As mulheres querem uma seleção aberta e justa, e quase todo mundo deseja ser contratado por suas qualidades e não em nome de uma agenda ideológica. Isso discrimina os homens, e uma desigualdade não se corrige com outra”, escreve.
De acordo com os planos da Universidade Técnica de Eindhoven, se um candidato masculino cuja qualificação for extraordinária aparecer durante o ano e meio calculado, será criada uma comissão adicional e exceções poderão ser feitas. Se depois do prazo não for encontrada uma boa candidata para uma vaga, as inscrições serão reabertas, mas desta vez fora do programa especial. Nesse caso, deve haver nomes respectivamente masculinos e femininos nas listas a serem avaliadas.
do El País