Indignado com o crescimento do número de casos de agressão e assédio contra a mulher, um instrutor de karatê shotokan, ex-policial e ex-segurança, decidiu criar um projeto social que ensinasse a mulheres, técnicas de defesa pessoal.
Cênio Marques da Silva Junior levou em conta a realidade da mulher mato-grossense. Em 2018, foi o 3º estado brasileiro com mais casos de violência contra a mulher.
Até o primeiro trimestre de 2019 essa realidade não mudou. Dados divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), apontam que 50% dos homicídios envolvem mulheres e se enquadram no crime de feminicídio. Os registros indicam ainda, 70 casos de assédio sexual e 122 casos de estupros.
“Eu atuei por cerca de 15 anos como militar, durante esse tempo percebi muitas ocorrências de mulheres sendo assediadas e sofrendo diversas agressões. Poucas delas sabiam como se defender ou se livrar dos chamados relacionamentos abusivos”, destacou Cênio.
Foi então que em 2016, iniciou as atividades da academia de Dojo Cênio Karatê Shotokan Sorriso (400 km de Cuiabá). Com o apoio da Polícia Civil e Polícia Militar o projeto foi nascendo aos poucos e cresceu, recebendo inclusive, apoio de atletas nacionais.
“Com o passar do tempo eu comecei a ministrar as aulas de karatê com a autorização do meu sensei. Inicie o projeto de Defesa Pessoal para Mulheres. Elaborei uma abordagem e seguimento bem diferenciado não só com a pratica de artes marciais, mas com orientações para que elas não se tornem vítimas em potencial”.
Segundo ele, muitas mulheres que foram agredidas ou vivenciaram os dramas de um relacionamento abusivo, têm recorrido às suas aulas. Policiais e profissionais especializados na área de defesa pessoal também colaboram com o projeto que conta hoje com quatro turmas.
A ideia ganhou ainda mais visibilidade quando as próprias participantes começaram a tornar pública sua participação com objetivo de convocar novas alunas.
As mensalidades são gratuitas, a única despesa é a taxa de inscrição de R$ 40,00. O curso tem duração 15 horas, sendo que cada aula dura 1h.
Arte que liberta
“A prática do programa tem me proporcionado segurança, uma sensação de liberdade” contou uma das alunas, Ellen Castro Silva. Ela conta que já passou por algumas situações constrangedoras. Mas o conhecimento que tem adquirido nas aulas têm a ajudado a sair de “saia justa”, além de ajudar no controle de suas emoções.
“No trabalho e em diversas ocasiões já me senti constrangida com atitudes de alguns homens. Muitos passam a mão sobre você, como se tivessem alguma autoridade. Outros falam palavras e fazem insinuações consideradas nojentas”, descreveu a jovem.
“No decorrer das aulas eu criei mais confiança pra falar não, uma vez eu dei até um tapa na mão de um rapaz. Ele nunca mais me tocou, mas continuou fazendo piadinhas. No curso somos orientadas a procurar as autoridades em caso de problemas mais graves, mas é bom ter a segurança de saber se defender em algum caso de emergência”, concluiu Ellen.
Vale lembrar que em ocasiões de agressão ou violência, a vítima ou testemunhas podem realizar denúncia pelo telefone 180.
Do O Livre