A mulher moderna vive conectada, assume dezenas de funções e tarefas simultâneas, ou seja, pensa e faz mil coisas ao mesmo tempo. Quando ela engravida, as multitarefas e a ansiedade em relação ao que está por vir tomam conta gerando ainda mais angústia para a nova mãe. Ao pensar no parto, ela normalmente associa o momento à dor e não a um momento natural e único, afinal, seu bebê estará em breve no seu colo.
Pode-se dizer que somos ensinados que parir é sofrer. E isso pode fazer com que muitas mulheres ou optem em agendar uma cesárea — sem saber os verdadeiros riscos da cirurgia — ou tentem um parto normal com medo, o que gera uma espécie de ‘bloqueio’ no processo. Para que o parto ocorra de forma mais positiva, a mulher precisa desligar o lado racional do cérebro para ir para o seu estado mais primitivo, animal mesmo. Mas, como fazer isso?
A pediatra Roberta Sampaio Ferreira Arruda, 36, é mãe de três e, nas duas primeiras gestações, tentou o parto normal, mas acabou em duas cesáreas. Hoje, ao reviver os partos, diz que a mente foi fator importante para não conseguir parir.
Na terceira gravidez, buscou o método GentleBirth, um app criado na Irlanda e que chegou no Brasil em 2017 para oferecer uma experiência mais positiva do parto — seja cesárea ou parto normal.
Com meditações guiadas, hipnose e afirmações positivas, o GentleBirth tem workshops e também um aplicativo com áudios para serem usados pela mulher que quer engravidar, para quem já está grávida e também no parto e pós-parto.
“O trabalho de parto é desencadeado e progride com uma íntima relação entre mente e corpo. Para fluir bem, essa conexão precisa estar harmônica. Se a nossa mente envia muitos sinais de que há perigo iminente, se sentimos medo, nossa defesa natural é aumentar a liberação de adrenalina, substância que compete com a ocitocina [hormônio do amor responsável, entre outras coisas, pelas contrações uterinas].
Tenho certeza que nos meus dois primeiros partos estive, em muitos momentos, com um lado alerta exacerbado, talvez por ser médica e por estar muito voltada para um conhecimento de doenças e possíveis riscos, o que contribuiu para uma progressão desfavorável do ritmo de ondas uterinas”, recorda.
Ao engravidar pela terceira vez decidiu pesquisar mais sobre o assunto e descobriu o GentleBirth, que também foi indicado pela obstetra dela. “Quando ela escutou meus relatos dos outros dois partos, falou para eu praticar mindfulness e hipnose do GentleBirth”. A pediatra conta que baixou o aplicativo e passou a explorar os áudios e também participou do workshop que acontece mensalmente na Casa Moara, uma clínica humanizada localizada no Brooklin (zona sul de SP).
“Desde então tenho utilizado praticamente todos os dias. Minha filha acabou de completar 5 meses, então, já estou há cerca de 6 meses utilizando e vejo inúmeros benefícios. Me ajudou a me entregar ao processo e acreditar em mim, no meu corpo e na minha mente”, comenta. Ela diz que, mesmo que tivesse uma terceira cesárea, teria sido aceita mais positivamente.
“O parto é um evento totalmente incontrolável. Contudo, podemos pelo menos tentar controlar um pouco a nossa visão do processo. Se controlamos, minimamente que seja, o controlável (o que pensamos e sentimos), aceitamos melhor o resto”, afirma.
O uso do aplicativo não termina no parto pois há áudios voltados para as mães que amamentam ou não, enfim, permitem que a mulher lide melhor também com o puerpério.
“A meditação tem me ajudado a ter uma melhor conexão comigo, em ter uma amamentação fácil, gerenciar melhor o estresse e lidar com a privação de sono, algo que não é fácil já que tenho três filhos entre cinco meses de vida e três anos”.
Resiliência emocional para a vida da mãe
A médica obstetra Andrea Campos conta que já acompanhou várias pacientes usando o método. Ela nota que a parturiente lida melhor com a evolução do trabalho de parto em si. “Eu indico para todas as pacientes, pois um preparo emocional e de autoconfiança são muito importantes para que a mulher se sinta bem durante o trabalho de parto e pósparto. Considero importante pois o parto — assim como o puerpério — é uma situação imprevisível que demanda da mulher do ponto de vista físico e emocional, e estar preparada para isso contribui para que ela tenha uma experiência positiva com o parto, independente de como ele transcorra”, afirma Andrea.
O método foi fundado em 2006 pela parteira irlandesa Tracy Donegan que criou um livro com vários CDs e que depois se tornou um aplicativo. Atualmente, o método está sendo usado em vários países como Austrália, Índia, Japão, EUA, Canadá e parte da Europa, além do Brasil. Ao todo, são mais de 250 instrutores do método no mundo.”Um dos maiores benefícios são pais mais calmos e relaxados com a capacidade de resistência emocional para lidar com qualquer coisa que surja no seu dia. O nascimento é imprevisível e isso preocupa os pais e causa muito medo, mas ao treinar seu cérebro eles podem escolher como responder ao que está acontecendo de uma maneira mais positiva.
Isso é ainda mais importante depois que o bebê chega, quando as mães estão se adaptando à maternidade e à grande transição que o acompanha. Queremos que as mães aproveitem, não se julguem ou se comparem com outras mães”, ressalta.
do site Universa