À frente de movimentos sociais, representações políticas, espaços acadêmicos e de resistência da comunidade afro-brasileira, as mulheres negras têm exercido um papel determinante na mobilização pela implementação e manutenção de direitos.
A marcha das mulheres negras que ocorreu em São Paulo, Belém e Salvador no dia 25 de julho – no Rio de Janeiro será em 28 de julho – é um exemplo da liderança das mulheres negras no combate às opressões.
De acordo com a coordenadora de núcleo da Uneafro Brasil, Elaine Mineiro, o objetivo do ato é mostrar a potência que as mulheres negras têm nas articulações populares.
“A todo momento a mulher negra é inviabilizada de alguma forma, então é importante que a gente demarque os nossos espaços e chame atenção para nossas reivindicações”, explica.
“A mulher negra sempre participou das mobilizações políticas, mas nunca à frente para representar as demais. Esse é o momento de mostrarmos que não vamos mais ser representadas por ninguém além de nós mesmas”, acrescenta.
O ato do dia 25 de Julho é inspirado na mobilização histórica de 2015 que levou milhares de mulheres negras a protestar em Brasília contra a violência racial e a demarcação de territórios indígenas e quilombolas.
Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha
A marcha das mulheres negras sempre ocorre na data estabelecida como Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, em que também é comemorado o Dia Nacional de Teresa de Benguela, importante líder quilombola do século XVIII.
Semente de Marielle Franco, assim como as deputadas federais Talíria Petrone (PSOL/RJ) e Áurea Carolina (PSOL/MG), a primeira transexual a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo, Erica Malunguinho, participou do ato na capital paulista nesta quinta-feira.
Para a deputada estadual, a data mostra que a comunidade negra possui reivindicações diferentes das que são colocadas para toda a sociedade de forma generalizada.
“É uma data que demarca uma agenda política de enfrentamento ao racismo e ao feminicídio, considerando que as violências nos atingem de forma mais substancial”, defende.
Erica Malunguinho se refere às estatísticas que revelam que as mulheres negras permanecem sendo o grupo mais negligenciado. Segundo o Atlas da Violência 2019, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dos 4.936 assassinatos de mulheres registrados em 2017, 66% das vítimas eram negras.
A vida da população negra é a principal pauta da marcha das mulheres negras. De acordo com o manifesto do evento. “Existe uma guerra declarada do Estado contra a população negra e pobre em curso. Direitos fundamentais são revogados ao passo que o governo criminaliza os movimentos sociais e todos aqueles que lutam por uma vida digna”.
A jornalista e uma das articuladoras da marcha, Juliana Gonçalves, reforça que o ato também é contra a reforma da Previdência, aprovada na Câmara dos Deputados neste mês.
“Nossa luta também é por um país onde tenhamos direito à aposentadoria, porque as mulheres negras já têm dificuldade para acessar a Previdência Social, com a reforma seremos ainda mais afetadas pelos cortes na seguridade”, alerta.
De Alma Preta/Yahoo Notícias