Bom, por onde começar?
Você já ouviu falar na sigla MGTOW? Nem eu. Mas é bom prestar atenção.
Em inglês, significa Men Going Their Own Way, ou “homens seguindo seu próprio caminho”, em tradução livre, um grupo que tem crescido em redes sociais como o Facebook e em fóruns do Reddit.
Seus integrantes acreditam que a solução para todos os problemas, sejam eles emocionais ou financeiros, é abrir mão de ter relacionamentos sólidos com mulheres. Sim.
A filosofia é bem simples:
Não morar junto com uma mulher
Não engravidar uma mulher
Não se envolver com uma mãe solteira
A professora de literatura na Universidade Federal do Ceará e blogueira Lola Aronovich (uma de nossas divas) é conhecida por acompanhar de perto as discussões de ativistas pelos direitos dos homens em fóruns e chans. “Eles acreditam que as mulheres ou vivem do Estado ou querem ser sustentadas pelos homens. E que, por isso, o matrimônio seria um sistema para roubar o dinheiro deles”, diz a ativista. “Porém, há estudos que dizem que o casamento é mais benéfico para os homens do que para as mulheres.” De acordo com um levantamento publicado em 2015 por pesquisadores da Universidade de Londres, da Escola de Economia de Londres e da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, citado por Aronovich, homens casados tendem a viver mais que os solteiros. Publicamos sobre isso mais cedo.
Lola diz que a “desvantagem” até pode ser a justificativa dos adeptos do MGTOWs, que costumam ser homens de 20 até 30 anos com currículo amoroso atribulado ou inexistente. Então, na realidade, a decisão de abrir mão das relações nem sempre é tão voluntária assim. “São homens muito frustrados, porque não conseguem se relacionar com as mulheres que gostariam. Eles se ressentem porque a mulher tem o poder de escolha, e a consideram horrível por poder recusá-los”, afirma a ativista.
Joanna Burigo, escritora e mestre em gênero, mídia e cultura afirma que é comum os adeptos se valerem de “casualidades” para justificar sua aversão ao relacionamento com mulheres. “Eles tomam algo que aconteceu individualmente como realidade, casos que não traduzem a estatística”, diz ela.
Em grupos de Facebook, são muitos os relatos de “um conhecido que perdeu tudo porque foi processado pela ex-mulher”, ou de “um primo que apanhou da namorada”. “Não duvido que histórias como essas existam, porém elas não acontecem em um volume que justifique esse movimento que antagoniza a mulher. É uma fantasia.”
Uma das principais críticas dos adeptos do MGTOW são dirigidas às mulheres que dependem financeiramente do marido — em outras palavras, às donas de casa. “Porém, se ela trabalha, é uma carreirista, ambiciosa demais. Eles dizem que o ideal de mulher deles é a dos anos 1950, que vivia para cuidar da residência e dos filhos. Assim fica difícil, não há saída para as mulheres”, afirma Lola.
Joanna Burigo diz que adeptos do MGTOW costumam sentir que o mundo e as mulheres devem alguma coisa para eles. “E, por não conseguirem, acabam adotando essa postura que se assemelha a de um garoto mimado”, afirma. Essa reação seria, de acordo com a pesquisadora, uma consequência da masculinidade que foi construída pela nossa sociedade. “Eles cresceram achando que merecem tudo o que querem, mas não é exatamente assim que o mundo funciona. Assim, projetam no feminismo o que eles não conseguem resolver neles mesmos.”
Segundo Joanna, todo mundo poderia se beneficiar de uma das principais lutas do movimento feminista: a dissolução dos padrões de gênero. “Eles não precisariam mais ser provedores ou o cara super ativo sexualmente. O feminismo também os livraria de atender às expectativas que a sociedade cria para eles.” A reconstrução do que entendemos como um “homem de verdade” diminuiria a frustração que eles sentem.
Lola Aronovich acredita que os adeptos do MGTOW “sentem ódio das mulheres”. Joanna, por sua vez, diz que não é possível fazer um diagnóstico tão amplo. “De qualquer forma, é sim um tipo de misoginia.”
A melhor solução para lidar com esses homens insatisfeitos seria, então, a educação.
“Precisamos educar os meninos do futuro sobre respeito”, afirma Lola. Em relação aos MGTOWs de hoje, a ativista é bastante categórica: “É melhor mesmo que eles fiquem sozinhos, assim teremos menos mulheres vivendo relacionamentos abusivos.”
Leia a matéria completa, publicada no Universa