Maria da Paz, protagonista de “A Dona do Pedaço”, vai levar um golpe da própria filha, Jo (Agatha Moraes). O plano de levá-la à falência ainda tem a participação de seu marido, interpretado por Reynaldo Gianecchini. A personagem de Juliana Paes não é a única a viver sob o mesmo teto de seu pior inimigo. A empresária Luciana Viana do Valle, 36, do Rio de Janeiro (RJ), passou por uma situação parecida, três anos atrás. Ao terminar um casamento de 10 anos, percebeu que o ex-marido havia transferido R$ 10 milhões que haviam conquistado juntos para o nome da mãe dele. “Eu mal acreditava. Se não fosse tão forte, ele teria acabado com a minha vida”, diz, em entrevista a Universa. “Quando a gente vê que a gente se matou de trabalhar para conquistar as coisas e, no fim das contas, leva um golpe tão absurdo como esse, você tem que ter muita força para continuar”.
Luciana não se deixou abalar e deu a volta por cima com a ajuda das redes sociais. Há um ano, Luciana toca, ao lado de seu atual marido, a marca Mamacita, especializada em bodies para venda no atacado. A marca produz cerca de 50 mil peças por mês. Vendidas para o mercado local, em breve o produto também estará disponível em São Paulo. O sucesso veio após uma publicação no Facebook, em que Luciana contava sua história, e com a popularização do Instagram da marca, com mais de 45 mil seguidores. “Antes eu tinha muita vergonha, mas, após falar sobre o que passei, recebi muito acolhimento e apoio de outras mulheres, porque não sou a única a sofrer com esse tipo de situação.”
A lua de mel
Luciana é filha de empresários do ramo têxtil. Ccresceu dentro de uma fábrica. “Aos 24 anos eu já era uma espécie de sócia do meu pai, tocava o negócio com ele havia sete anos. Foi nessa época que conheci meu ex-marido, que era bancário”, narra. O relacionamento ficou sério e, em 2006, virou casamento. O pai de Luciana não gostou nem um pouco do genro e desaprovava a relação. “Ele falou que, se eu quisesse ter uma vida com meu ex, deveria começar do zero o meu próprio negócio”, diz. “Aí eu, cega de amor, briguei com a minha família e abri mão de tudo para ficar com ele.”
O ex largou o emprego no banco e o casal usou o dinheiro que tinha para abrir um box de roupas numa feira do Rio de Janeiro (RJ). “Como havia crescido naquele meio, eu já sabia como o mercado funcionava, onde encontrar tecidos mais baratos, onde fazer os moldes. Isso facilitou nosso caminho”, conta Luciana. Em 2016, eles já tinham quatro lojas, algunsimóveis e dinheiro investido. “No total, eram cerca de R$ 10 milhões de patrimônio.”
Sorte nos negócios, “azar” no amor
Enquanto a sociedade de Luciana e o ex-marido parecia estar a todo vapor, a vida conjugal era o contrário disso. A empresária começou a perceber que vivia um relacionamento abusivo. “Sofri algumas agressões, comecei a descobrir várias traições. Porém, eu tinha construído tanta coisa ao lado dele, não queria deixar tudo isso para trás. Até que cheguei ao meu limite”, diz. Luciana pediu divórcio em 2016. O ex-marido disse que, caso ela não aceitasse um relacionamento fixo extraconjugal, ela iteria de ir embora sem a parte que lhe cabia do patrimônio construído em conjunto. “Não acreditei no que ele disse, a gente havia feito tudo junto, não teria como ele pegar tudo. Até que descobri, pouco tempo depois, que um ano antes do ‘ultimato’ ele havia aberto uma firma no nome da mãe dele e passado nossos investimentos e patrimônios para o nome dela.”
Luciana conta que deixou a (agora) casa do ex-marido com R$ 2 no bolso, segurando a filha de nove anos pela mão, só com a roupa do corpo. “Quando tentei voltar para pegar minhas coisas, ele fez um inferno. Achava que era dono de mim, que eu era propriedade dele. Foi quando decidi que não pegaria mais nada, porque não valia a pena passar por tudo aquilo.” Em meio a brigas e boletins de ocorrência feitos por Luciana contra o ex-marido, a empresária morou durante um ano na casa da mãe, sustentada por ela. “Ela foi minha fortaleza, quem me acolheu no momento em que mais precisava.” Para ganhar um “troco”, vendeu produtos de catálogo e fez bicos, até que recebeu a proposta de um amigo para ajudá-lo a abrir uma loja. “As pessoas conheciam o meu trabalho, sabiam que eu era boa no que fazia. Como ele queria vender roupas femininas, mas tinha experiência apenas com roupas masculinas, sugeriu que ele entrasse com o investimento e eu com a mão de obra.”
Volta por cima no Instagram
A empresária diz que o ex-marido parou de “dar escândalo” apenas quando ela se casou com um policial, em 2018. O atual companheiro usa bastante as redes sociais e administrava algumas páginas do Facebook. Quando soube de toda a história de Luciana, deu a ideia de contá-la na internet. “Ele ficou muito revoltado com tudo o que passei e falou que seria bom compartilhá-la, porque outras mulheres já passaram o mesmo. Até aquele momento, estava sendo muito lesada, porque nem mesmo a pensão da minha filha o meu ex-marido estava pagando, enquanto continuava tocando nossas lojas como se nada tivesse acontecido.”
A publicação da história de Luciana viralizou nas redes sociais e, a partir dela, o casal teve a ideia de criar a marca Mamacita. “Ele vendeu o carro dele por R$ 16 mil e, com esse dinheiro, compramos tecidos por um bom preço, preparei as modelagens e mandei cortar e costurar em confecções terceirizadas”, afirma. Como a trajetória da dona da marca sensibilizou muitos usuários das redes sociais, logo os bodies da Mamacita estavam bombando. “Teve filas de compradores em um feirão de roupas de que participamos”, fala. A marca tem uma loja própria.
Luciana ainda leva cicatrizes emocionais de tudo o que passou. “Todo mundo viu a situação, sabia que eu tinha razão, mas, infelizmente, o poder está nas mãos das pessoas que têm dinheiro.” Ela move um processo contra o ex-marido. A reportagem entrou em contato com o advogado Afrânio Evangelista, representante da parte contrária. Ele disse que o cliente não tem interesse em se pronunciar e que não pode comentar o caso por segredo de Justiça. Apesar de o processo ainda não ter um desfecho, a empresária tem recebido ajuda dos familiares — ela se reaproximou do pai após o divórcio — e de seus seguidores nas redes sociais para continuar dando a volta por cima. “Hoje em dia me tornei uma referência para outras mulheres. Recebo um carinho muito grande delas. Espero que, com a Mamacita, elas também consigam se reerguer.
Do Universia