O estado da Paraíba possui hoje um contingente de 562 mulheres apenadas. Só em Campina Grande, o Presídio Regional Feminino conta com 105 detentas.
As diferenças no convívio e no contexto do sistema prisional masculino e feminino são bem abrangentes, mas o que talvez seja mais perceptível nesses dois mundos diz respeito ao abandono familiar e sentimental das mulheres em privação de liberdade. ‘Solitárias pela pobreza’, muitas delas não recebem visita pelo simples fato das famílias não terem condições financeiras de deslocamento até o presídio.
Durante uma discussão numa rede social, um grupo formado por mulheres tomou a iniciativa de visitar o Presídio Regional de Campina Grande com o objetivo de conhecer de perto as condições de vida das apenadas. “Ficamos impactadas com a situação delas. Além do abandono familiar, muitas sequer tinham itens básicos de higiene”, afirmou Mariana Vieira, servidora pública federal.
Foi a partir desse momento que surgiu a ONG Mulheres no Cárcere, que desde 2017 atua dentro do Presídio Regional com o objetivo de levar um pouco de dignidade para mulheres que perderam quase tudo.
O grupo ainda não estava organizado enquanto instituição, mas sabia que precisava agir. Num primeiro momento, a ação mais urgente foi arrecadar material de higiene pessoal para ser distribuído com as apenadas. Por meio de doações, foram montados kits de higiene com sabonete, creme dental, papel higiênico, shampoo, condicionador, absorvente e desodorante.
Entrega dos kits de higiene. |
A receptividade das detentas e da gestão do Presídio foi muito positiva, pois o projeto abrange mulheres que de alguma forma, não recebem visitas e que também por isso, se tornam ainda mais vulneráveis. De acordo com a diretora do Presídio Regional Feminino de CG, Ana Íris, cerca de 30% dessas apenadas não têm contato constante com a família. “Esse número abrange mulheres em que os companheiros também estão presos, outras são de cidades distantes e as famílias não têm condições financeiras de fazer uma visita semanal”, afirmou Ana Íris.
Sororidade é isso! |
Mariana Vieira, que hoje é presidente da ONG, aponta que o projeto começou a crescer e o trabalho começa a ir além do apoio material. “Estamos articulando, junto com a CCJ da UEPB, prestar uma assistência jurídica e cursos de direito e cidadania junto às apenadas”.
A vida depois do cárcere
A ONG Mulheres no Cárcere também começou a pensar na vida dessas mulheres depois de anos vivendo em privação de liberdade. Um exemplo desse trabalho é dona Creuza.
Depois de 13 anos vivendo como apenada, e cerca de 8 anos sem receber visitas, dona Creuza finalmente entrou em regime de liberdade condicional, mas sem nenhum tipo de amparo. “Ela ia sair do presídio sem apoio algum e sem contato com a família. Organizamos uma mala com roupas e itens básicos, além de cesta básica, e conseguimos intermediar o retorno dela para cidade de origem, no interior do estado”, afirmou Mariana, salientando que essa situação levou o projeto a pensar em mais uma frente de trabalho.
“Estamos pensando na criação de um fundo de amparo para que essas apenadas consigam colocar em práticas suas próprias habilidades e tenham condições de se manter fora do sistema prisional”.
Taty Valéria