Escola sem Mordaça! Porque pensar é um direito! |
Num sistema de governo ditatorial, um dos mecanismos mais usados para delimitar a liberdade de pensar e o debate crítico é o ataque sistemático à educação.
A capital da Paraíba vem presenciando essas ações de forma direcionada e constante. Semana passada a Escola Cidadã Integral Francisca Ascenção Cunha, que fica no bairro dos Bancários, foi alvo de um ataque provocado por uma mistura de fake news com intolerância e ignorância. Nessa sexta-feira (30), foi a vez do Sesquicentenário, instituição conhecida pela excelência no ensino público na Paraíba.
São muitas as coincidências que unem essas duas escolas nos ataques sofridos: são instituições públicas, possuem destaque acadêmico no seu quadro de alunos e professores, tiveram suas atividades tiradas de contexto e foram vítimas de parlamentares que não possuem nenhuma credencial para avaliar o que está posto na grade curricular escolar.
Na última quinta-feira (29), o deputado estadual Walber Virgulino soltou, em suas redes sociais, graves acusações relativas à cartazes que estavam afixados no Centro Estadual de Ensino e Aprendizagem Sesquicentário. Usando termos como “anarquia” e “caso de polícia”, o parlamentar, que não procurou saber o contexto daqueles cartazes, se limitou a vociferar exigindo “providências urgentes” da Secretaria de Educação. Na mesma sequência de fotos, Walber ainda incluiu uma reprodução feita durante uma aula de história greco-romana.
O que o deputado não sabe, e não quis procurar saber: os cartazes faziam parte de um projeto de sociologia com os alunos do 1º e 2º anos do ensino médio, que abordou os diversos movimentos sociais; as representações sociais de direita também tiveram o mesmo espaço de apresentação; a proposta do trabalho faz parte da grade curricular da turma.
cartaz sobre o movimento hippie dos anos 70 |
De acordo com professor Renan Palmeira, que coordena o trabalho dentro da disciplina de sociologia, houve toda uma discussão prévia sobre movimentos sociais e sobre cada um dos temas. A culminância do projeto foi a apresentação de cartazes pela escola.
É possível ver claramente o MBL e o VemPraRua, movimentos conservadores de direita. Todos faziam parte da mesma mostra. |
Numa das fotos que fazem parte da postagem do deputado, aparece uma imagem de uma aula sobre história greco-romana (que não fazia parte do projeto) e a representação fálica daquele contexto histórico. O deputado não conhece sociologia, e também não conhece a história da antiguidade. Não iremos reproduzir a postagem do deputado.
Para a professora Denise Cantalize, que ministra a disciplina de química na mesma unidade, a atitude do parlamentar foi uma afronta aos alunos, aos professores e à toda escola. “Ele é um delegado e deputado, não possui nenhuma credencial para debater sobre educação, nem tem conhecimento de causa sobre processo pedagógico”, afirmou Denise, que fez um desabafo:
“Nós todos prezamos muito e temos amor por essa escola, que consideramos nossa! Fomos colocados numa situação completamente vexatória sem termos tido o direito de explicar o que estava acontecendo de fato”.
Ainda de acordo com o professor Renan, a escola não ficará omissa diante de um ataque tão direto à liberdade de cátedra. “Estamos vivendo num clima total de repressão, me sinto intimidado. Fui exposto e coagido, essa tentativa de censurar as escolas está saindo do controle”, disse Renan.
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Taty Valéria