“É muito difícil eu ter orgasmo junto com meu parceiro”, “não consigo gozar com penetração”, “eu não consigo chegar lá, mesmo sozinha, acho que é por culpa”, “eu sinto muito tesão, mas nunca gozei”. As frases são comuns numa roda de amigas ou em um grupo de apoio na internet. O orgasmo — aquele momento em que o prazer da excitação sexual atinge o máximo de intensidade, como define uma busca no Google — ainda não acontece com a frequência que a maioria das mulheres gostaria.
A palavra orgasmo era basicamente ‘banida ‘ das discussões de sexualidade durante boa parte do século XX e só passou a ser amplamente discutida a partir dos anos 70. Muito se avançou desde então, é claro — agora ela pode aparecer até no título dessa reportagem. Mas, a verdade é que gozar ainda é difícil para muitas mulheres. Apenas 36% têm orgasmos durante o sexo, revela pesquisa feita pela Casa Prazerela, espaço que apoia mulheres a se empoderar de seus corpos através do prazer. Segundo o levantamento, feito com 1370 mulheres, 77% delas heterossexuais, 50% chega lá eventualmente e 14% nunca gozou durante uma relação sexual.
— Como é que a gente vai gozar numa sociedade que o tempo todo está nos apontando o dedo, falando que a gente é suja e que não deveria? — questiona a fundadora da Prazerela, a psicanalista e comunicadora Mariana Stock. Ela explica que a histórica repressão da sexualidade feminina tem peso fundamental nessa dificuldade que as mulheres ainda têm de chegar ao orgasmo.
— Quando a gente nasce, já está atravessado por essa cultura. O orgasmo já entra na caixinha do pecaminoso, do feio, do sujo, do errado, do “tira a mão daí” — afirma Stock — Não dá para falar de orgasmo só do ponto de vista fisiológico, sem colocar esse contexto — completa.
Do O Globo