Depois de esperar mais de um ano e meio por julgamento, a britânica Mavis Eccleston, de 80 anos, foi inocentada da acusação de assassinar do marido.
Ela foi indiciada por supostamente ter dado a Dennis Eccleston, de 81 anos, uma dose letal de um remédio controlado sem o conhecimento dele.
Dennis tinha câncer no intestino e, após descobrir que a doença se encontrava em estágio terminal, decidiu interromper o tratamento.
Ele manteve a ingestão de medicamentos para dor e solicitou que os profissionais de saúde não fizessem procedimentos de ressuscitação se o caso chegasse a esse ponto, o que a lei no Reino Unido permite.
Posteriormente, pediu à esposa que o ajudasse a cometer suicídio assistido e, segundo o testemunho de Mavis ao júri, beijou sua mão depois que ela concordou em “realizar seu desejo”.
A viúva afirmou que ele “sabia muito bem” a medicação que estava tomando e que ele mesmo administrou a superdosagem, depois de pedir que ela pegasse a caixa de remédios no armário.
“Era um acordo entre a gente. Ele me diria o que eu teria de fazer.”
Carta aos filhos
Ao júri no tribunal na cidade britânica de Stafford ela contou que também chegou a tomar uma overdose do medicamento, mas sobreviveu.
Mavis disse que deu um beijo no marido, cobriu-o com um cobertor e disse “boa noite, querido”, enquanto se dirigia para o sofá.
“Depois, só lembro de estar no hospital”, afirmou.
Testemunhas disseram que o casal teria escrito uma carta aos filhos explicando que tinham decidido por fim às próprias vidas e suas razões.
Eles foram encontrados em casa por parentes, desacordados, no dia 19 de fevereiro do ano passado e levados ao hospital, onde Mavis foi tratada para se recuperar da superingestão de remédios.
Em um comunicado emocionado lido na saída do tribunal, Joy Munns, de 54 anos, filha do casal, pediu mudanças na lei que regulamenta a morte assistida “para que pessoas debilitadas não sejam forçadas a sofrer, planejar em segredo ou pedir a seus entes queridos que corram o risco de serem indiciados por tentarem ajudá-los”.
Joy disse ainda que a família estava agradecida e aliviada pelo júri ter reconhecido “o amor da mamãe pelo papai”.
“Desde a morte do papai, nossa família tem passado por uma série de provações terríveis. Tivemos de esperar mais de 18 meses por esse julgamento com a preocupação de que, depois de perder nosso pai para o câncer, poderíamos ver nossa mãe ser presa”, afirmou, com a voz embargada.
“Se houvesse uma lei que regulamentasse a morte assistida no Reino Unido, nosso pai poderia ter tido a escolha de acabar com seu sofrimento com apoio médico adequado e com seus entes queridos em volta dele.”
Durante o julgamento, que durou cerca de duas semanas, Mavis declarou que o marido havia cogitado viajar à Suíça, onde o suicídio assistido é permitido, para realizar sua vontade.
“Por causa das leis ultrapassadas do Reino Unido sobre morte assistida, Dennis sentiu que sua única opção era por fim à própria vida a portas fechadas”, comentou Sarah Wootton, chefe-executiva da organização Dignity in Dying, que luta pela legalização da eutanásia no país.
“Dennis não deveria ter sido forçado a tomar medidas tão drásticas e Mavis nunca deveria ter sido submetida a uma situação angustiante como essa.”
Da BBC