A ingestão exagerada de álcool é uma das principais causas de doenças no fígado, como a cirrose e a hepatite alcoólica. E as consequências podem ser ainda piores para as mulheres, segundo um experimento norte-americano. Em estudo com ratos, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Missouri identificaram que as fêmeas são mais sensíveis ao efeito da substância e, consequentemente, a lesões hepáticas. Segundo os autores, o resultado pode ajudar no desenvolvimento de abordagens preventivas e medicamentosas para humanos.
“Alguns consumidores crônicos de álcool podem beber por vários anos e ainda ter vidas relativamente saudáveis, mas muitos são suscetíveis a danos no fígado quando bebem demais. O fígado é a força metabólica do corpo. Por isso, lesões nele podem causar danos a outros órgãos”, ressalta Shivendra Shukla, professor de farmacologia médica e fisiologia da Universidade de Missouri e principal autor do estudo, divulgado recentemente na revista Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics.
Nos experimentos, os cientistas analisaram os efeitos do álcool no metabolismo de quatro ratos fêmeas e quatro ratos machos. Os animais tinham a mesma idade e o mesmo peso. Em intervalos de 12 horas, as cobaias recebiam a mesma quantidade de álcool três vezes seguidas. Quatro horas depois da última etapa, a equipe coletou e analisou o tecido do sangue e do fígado dos roedores.
Segundo a equipe, os resultados foram surpreendentes. A concentração de álcool no sangue das fêmeas era duas vezes maior do que a dos machos. “Nossa pesquisa mostrou que, em apenas três episódios de consumo excessivo de álcool, as fêmeas de rato sofreram mais lesões no fígado do que os machos”, frisa Shivendra Shukla. “O peso corporal, a gordura e a idade podem influenciar a quantidade de álcool que afeta o metabolismo, mas esse não é o caso. É possível sugerir que as diferenças apareceram devido a diferenças de sexo dos animais.”
A equipe acredita que a alcoolização mais rápida nas fêmeas tem um motivo fisiológico. A enzima álcool desidrogenase, responsável pela metabolização da substância no corpo, é encontrada em pouca quantidade no organismo delas, o que as deixa mais suscetíveis a danos causados pela ingestão da substância. Nos machos, acontece o contrário. A enzima é encontrada em níveis elevados e, por causa disso, a droga é metabolizada mais rapidamente, acelerando a sua eliminação pelo fígado.
As análises também mostraram a existência de lesão hepática, caracterizada por esteatose hepática, em todos os ratos, mas o dano foi maior nas fêmeas. Elas tiveram quase quatro vezes mais acúmulo de gordura no fígado, condição que pode funcionar como um gatilho para outras inflamações. “Essa elevação de esteatose nas fêmeas pode ser associado ao aumento das enzimas transaminases séricas, que é bem significativo em lesões hepáticas agudas”, aponta Shukla.
Do Correio Braziliense