Mulher jovem, preta ou parda e com baixa escolaridade. Esse é o perfil dos desalentados no Brasil, parcela da população que mais do que triplicou em cinco anos e chegou a quase 5 milhões de pessoas, quase 5% da população economicamente ativa.
Os dados fazem parte do estudo “Quem são os desalentados do Brasil?”, dos pesquisadores Paulo Peruchetti e Laísa Rachter, do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV, com base nos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
São considerados desalentados pessoas que desistiram de procurar emprego porque não têm esperanças de que irão encontrar, apesar de estarem disponíveis e com vontade de trabalhar.
Além de analisar os grupos mais atingidos pelo fenômeno, os pesquisadores estimaram qual a probabilidade de esses fatores socioeconômicos levarem o indivíduo à condição de desalentado, independentemente do nível de renda e dos choques nos mercados de trabalho macroeconômicos e regionais.
O modelo indica que mulheres têm probabilidade 2,1 pontos percentuais maior de se declararem desalentadas que os homens.
Indivíduos que completaram pelo menos o ensino médio, por outro lado, têm probabilidade 3 pontos percentuais menor de serem desalentados que indivíduos sem ensino médio completo.
“Esse é um efeito considerável levando em conta que a probabilidade de desalento é de cerca de 4,2% no período mais recente”, dizem os pesquisadores.
A principal razão declarada pelos que desistiram de procurar emprego foi não haver trabalho na localidade onde moram: 63% afirmaram que desistiram de procurar emprego por essa razão.
Outros 20% não encontraram trabalho adequado, 10% apontaram a idade como motivo e 8% citaram a falta de qualificação ou experiência.
Marina Bezerra Fernandes, 25, que começou a trabalhar aos 15 anos, hoje não estuda, não trabalha e não está procurando emprego.
Desistiu porque não conseguiu encontrar um salário adequado a sua necessidade. Ela mora com o pai, hoje aposentado, e a avó, de 96, que tem Alzheimer.
A única renda da casa, atualmente, é a aposentadoria do pai, de R$ 2.500. “Precisaria de um emprego que me desse estabilidade, que não me desgastasse tanto e no qual eu ganhasse mais, porque não posso deixar de lado a minha avó.
Mesmo meu pai tendo se aposentado neste ano, ele ainda faz alguns bicos e alguém precisa ficar com ela durante o dia. Assim, não compensa eu ter um trabalho que paga pouco, porque teríamos que pagar alguém para cuidar da minha avó durante o dia. E, por enquanto, não temos como pagar”, afirma Fernandes.
O estudo do Ibre mostra que, regionalmente, destacaram-se os aumentos da participação, no total de desalentados, de moradores do Maranhão (de 8,9% para 12,1%) e de São Paulo (de 5,7% para 9,6%).
A participação da Bahia registrou a maior queda (de 19,2% para 15,7%), mas é ainda a maior do país.
Nos últimos cinco anos, entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período de 2019, houve aumento na fatia de homens (de 40% para 45% do total), pretos (de 7,6% para 11,2%) e pessoas com ensino médio completo (de 21,4% para 25%) ou superior incompleto ou completo (de 2,6% para 6,7%) no total de desalentados.
Da Folha de SP