Quem olha para os números do mercado erótico no Brasil dificilmente enxerga qualquer indício de crise ou de dificuldade. As lojas especializadas em artigos voltados à intimidade de casais estão cada vez mais equipadas e movimentadas – com gente de todo tipo.
Depois de chegar à marca de R$ 1 bilhão de faturamento em 2017, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o setor deve superar a cifra de R$ 1,8 bilhão em receitas neste ano.
Está muito claro que os brasileiros estão vencendo o preconceito e a hipocrisia, sabendo separar sexo de conceitos antigos do que é pecado
Paula Aguiar, empresária e ex-presidente da Abeme
A disparada é atribuída, principalmente, às facilidades – e discrição – proporcionadas pelo e-commerce e a maior participação das mulheres nas vendas. “Os tempos modernos liberaram as mulheres de antigos tabus e de padrões machistas de comportamento”, afirma Paula Aguiar, empresária do setor e ex-presidente da Abeme. “Hoje em dia, elas representam cerca de 70% das vendas dos sexshops e, graças a isso, estamos crescendo entre 30% e 35% ao ano desde o começo de 2018.”
Atualmente, Paula também atua como importadora e consultora de produtos eróticos. “Agora, são as mulheres que tomam as iniciativas. Não sentem receio de entrar em lojas do segmento e até deixam o bloco masculino meio acanhado”, garante.
As mudanças de comportamento do consumidor estão expressas nas estatísticas de receita e vendas na internet. A mais recente pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), relacionada ao consumo virtual no ano passado, aponta que o índice de satisfação dos brasileiros na compra de produtos eróticos é de até 81%.
Além disso, os sexshops virtuais representam 90% de todas as vendas. “O debate sobre o empoderamento sexual e o prazer feminino ajudaram a implementar os negócios do setor”, diz o presidente da Abeme, Edvaldo Bertipaglia. “Além disso, fenômenos de massa, como novelas, filmes e revistas com informações sobre o universo sexual foram fundamentais para o mercado erótico no Brasil.”
O segmento cresce à medida que o seu público se diversifica. Segundo Paula, tem sido exponencial o aumento de consumidores da terceira idade, grupos que, no passado, eram raros dentro de lojas do ramo. “Está muito claro que os brasileiros estão vencendo o preconceito e a hipocrisia, sabendo separar sexo de conceitos antigos do que é pecado”, afirma a empresária. “Cultivar a cumplicidade e a intimidade entre marido e esposa fortalece o elo familiar. Os casais não precisam pular a cerca.”
De acordo com os dados da Abeme, São Paulo lidera o mercado brasileiro, com 33% das vendas do país. Em seguida aparecem Rio de Janeiro (16%) e Minas Gerais, com fatia de 11% do setor. Para o presidente da entidade, todas os mercados estão com as mulheres na liderança.
Lingeries e cosmética sensual são os itens mais procurados. “Além disso, a cultura da mulher brasileira de ser uma cuidadora do relacionamento fez com que as lojas se adequassem a este público. As mulheres são formadoras de opinião e influenciam as amigas a comprarem ou não”, afirma o executivo. Ainda de acordo com os dados da associação, os consumidores gastaram em suas compras, em média, R$ 210.
Assim como lojas físicas e e-commerce, o mercado erótico está crescendo com as vendas diretas, conhecidas como porta-a-porta. Segundo Paula Aguiar, os vendedores autônomos têm conseguido uma importante fonte de renda em tempos de desemprego alto e aumento da informalidade do mercado de trabalho.
“Os catálogos são variados e oferecem itens a partir de R$ 50 ou R$ 100. Não é difícil conseguir renda mensal acima de R$ 1 mil”, garante ela. “Há de tudo um pouco para quem deseja viver intensamente cada momento sem as barreiras da vergonha,” completa Paula.
Do Estado de Minas