Donos de asilo são indiciados por tortura que teria levado idosos à morte

By 3 de outubro de 2019Brasil

A polícia mineira encaminhou para o Ministério Público estadual o indiciamento de seis pessoas de uma clínica de repouso de Santa Luzia (MG). Elas vão responder por vários crimes, entre eles, torturas, abusos sexuais, privação de água e comida, cometidos por cinco anos. A negligência teria, inclusive, colaborado para as mortes de 18 internos, de acordo com as investigações.

Foram indiciados e já estavam presos: Elisabete Lopes Ferreira, dona do asilo; o marido Paulo Lopes Ferreira; Poliana Lopes Ferreira e Patrícia Lopes Ferreira, filhas do casal; e Jorman Alexander Venâncio do Amaral, cuidador.

Um homem responde em liberdade, mas também foi indiciado. Ele seria o dono do imóvel onde funcionava a clínica e não teve o nome divulgado.  À polícia, todos negaram os crimes. Caberá ao MP formular ou não denúncia contra os indiciados. Se houver denúncia e ela for aceita pela justiça, os suspeitos se tornarão réus.

Maus-tratos “aceleraram” mortes, aponta investigação

As condições precárias ajudaram a levar 18 idosos à morte, afirma a delegada Bianca Prado. “[As mortes] foram causadas pela negligência, agressões ou foram pelo menos aceleradas. A gente tinha no local um total abandono, não tinha prestação de socorro, não tinha alimentação. Tudo isso juntado ao fato de serem pacientes com saúde debilitada colaboraram e muito no resultado morte”.

Além das mortes que, teriam sido influenciada pelos maus tratos, a polícia contabilizou um total de 76 pessoas maltratadas. Para isso, foram analisados laudos médicos de pessoas atendidas em hospitais após passarem pela clínica, exames de corpo de delito, perícias na clínica, além dos relatos de mais de 50 testemunhas. O inquérito tem cerca de mil páginas.

Idoso e cadeirante teriam sido estuprados

Segundo a polícia, a investigação descobriu dois casos de estupro dentro do asilo. Um deles teria sido cometido contra um homem de 70 anos, obrigado por Elisabete a fazer sexo oral nela. A vítima é lúcida e deu detalhes do caso, afirma a polícia.

Elisabete e o marido também teriam violentado uma cadeirante 23 anos, de acordo com a apuração. Segundo ex-funcionários, a jovem era deixada vestida na cama, mas, na manhã seguinte, era vista sem roupa, apesar de não ter movimentos nos braços e nas pernas. As duas pessoas que passavam a noite na clínica eram o casal.

Dona da clínica era chefe do grupo, diz delegada

A investigação aponta Elisabete como a chefe do grupo. “Tudo A investigação aponta Elisabete como a chefe do grupo. “Tudo que aconteceu tem ela por trás, ou mandando ou agindo”, diz a delegada.

O caso começou a ser a investigado há dois meses. Uma ex-funcionária mostrou fotos de idosos com marcas de agressão para a psicóloga de um hospital, e esta denunciou aos investigadores. Elisabete e Poliana, mãe e filha, foram presas em flagrante, suspeitas de tortura e agressão a idosos acamados.

Seis dias depois, a polícia prendeu o marido, a outra filha do casal e o cuidador. Elisabete vai responder por tortura, tortura que resultou em morte, estupro de duas pessoas e desacato no dia da prisão. O marido foi indiciado por estupro de uma pessoa e por tortura com lesão.

A investigação enquadrou as filhas no crime de tortura, e Poliana também cometeu desacato, segundo a polícia. Já o indiciamento de Jorman ocorreu por tortura com lesão. A pessoa que está em liberdade responderá por lesão corporal leve.

Asilo não tinha controle de entrada e saída

As famílias dos internos, a maioria idosos, pagavam entre R$ 900 e R$ 1.300 por mês, e precisavam arcar com fraldas, material de higiene e remédios não fornecidos pelo SUS. A maior parte das pessoas foi retirada da clínica por parentes. Quatro seguem à espera de familiares e estão em clínicas
especializadas.

A casa onde ocorreram os crimes, de acordo com a investigação, chegou a receber 55 pessoas de uma vez. Isso segundo relatos, porque não havia controle de entrada e saída.

Os suspeitos mudaram pelo menos três vezes de endereço, sempre um distante do outro. O último deles, na zona rural de Santa Luzia. Para a polícia, foi uma forma de fugir da fiscalização.

No local, não havia profissional capacitado para os serviços e nem alvará de funcionamento. Apesar disso, não tinha aparência que indicasse irregularidades, como sujeira ou desorganização, de acordo com a polícia. O problema mais visível era a falta de acessibilidade.

Por causa das suspeitas dos crimes, houve a interdição da casa e, uma semana depois, o fechamento.
A prefeitura foi procurada para falar se houve ou não fiscalização na clínica, mas não retornou.

do UOL

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