O machismo cruel da violência patrimonial, o relacionamento abusivo e os porquês dela “não colocar fogo na casa”

By 3 de outubro de 2019Machismo mata


Vocês já devem ter recebido em algum grupo de Whatsapp a história da mulher que denunciou o marido por ele cobrar multas dentro de casa. Se não viu, eu falo rapidinho:

A Delegacia da Mulher, no Centro de Teresina (PI), abriu inquérito nesta terça-feira (1º) para investigar denúncia de que um agente da Polícia Federal estaria obrigando sua mulher a pagar multas dentro de casa como forma de punição. De acordo com relato da vítima, as multas variavam de R$ 20 a R$ 50, e eram relativas à “falhas domésticas”, como não jogar a roupa suja no cesto, ou molhar o chão do banheiro.

A vítima de iniciais I.C.G.M.M, 35 anos, é professora e está casada há dois anos com o agente da PF, José Henrique Alves Moita. Eles moram na mesma residência, no bairro Horto Florestal, na zona Leste de Teresina.

Como justificativa, José Henrique informou à Polícia que as multas serviam para corrigir, disciplinar, educar e consertar a mulher.

Vamos separar essa aberração por partes:

O que leva uma professora, jovem, com dois anos de casada, à se submeter à isso? De onde vem tanta passividade? Por que ela permitiu que isso começasse? Por que ela não foi embora? Por que não saiu com o filho e tocou fogo na casa? São muitas perguntas.

Mas é preciso falar sobre dois tipos de violência doméstica que são extremamente comuns e que dificilmente conseguem ser percebidas por quem está sofrendo: a violência psicológica e a patrimonial. Elas não deixam marcas, não produzem barulhos, os vizinhos (nem sempre isso faz diferença) não ouvem e os filhos não percebem. A própria mulher não percebe que está dentro de um relacionamento abusivo.

Também é preciso salientar que essa mulher vivia um relacionamento abusivo com um homem que tinha acesso à armas de fogo. Eu nunca tentei discutir ou ao menos debater com alguém que tivesse uma arma na cintura. Digamos que talvez seja difícil.

E daqui partimos para o que de mais cruel e mesquinho o patriarcado é capaz de produzir: homens sem empatia alguma, que se sentem no direito de corrigir e disciplinar a própria esposa, como se ela fosse um cachorro que deve ser adestrado.
De onde vem esse tipo de educação? Que tipo de infância esse homem teve? Onde ele aprendeu que mulheres devem ser tratadas de uma forma tão desumana?

Não estamos aqui falando de um homem humilde, sem acesso à informação e instrução, criado em algum rincão miserável desse país. Estamos falando de um agente público, que ocupa a função de proteger pessoas e garantir o cumprimento das leis.

Banalizar certas coisas tem levado esse país à um nível de humanidade cada vez mais baixo. Foi por frases como “ele tá só brincando” que chegamos à esse ponto.

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: