Luciene Ferreira Sena, foi queimada viva dentro do próprio carro |
“Se ela tivesse contado para a família o que acontecia com o relacionamento dela, isso não teria acontecido. A gente não teria deixado ela ser morta.” Isso é no que acredita a aposentada Maria Sena, mãe da técnica de enfermagem Luciene Ferreira Sena, 39, que morreu no último dia 30 depois que o ex-namorado ateou fogo, com um coquetel molotov, no veículo em que os dois estavam. O crime, que escandalizou a cidade de Pirassununga, no interior de São Paulo, aconteceu no dia 29, quando o pedreiro Elisangelo Marcondes Francisco dos Santos abordou a vítima na saída da Santa Casa da cidade, onde ela trabalhava. De acordo com testemunhas, o homem, que também morreu, não aceitava o fim do relacionamento.
“A gente não sabia que ela apanhava. Só depois de tudo o que aconteceu que as pessoas falaram isso. É muito triste, ela era uma pessoa especial, que não tinha problema com ninguém. Mas apanhava e quis poupar a gente”, diz a mãe de Luciene, em conversa com Universa. “Eu só aceitei dar essa entrevista porque acho que muita gente apanha do marido e não fala com a família. Isso não pode acontecer. O que aconteceu com ela não deve acontecer com ninguém.” Maria conta que a filha realizou o sonho de se tornar técnica de enfermagem há três anos. Há dois, começou a trabalhar na Santa Casa de Pirassununga. “Ela tinha sonhos, ia atrás do que queria. A gente sempre viveu na roça, mas ela dizia que queria estudar e estudou mesmo”.
Amor pela família Luciene morava em Santa Cruz das Palmeiras, cidade vizinha a Pirassununga, e era a única filha biológica de Maria e Manuel Sena. Eles se separaram quando ela estava grávida de oito meses. “Quem criou mesmo a Luciene foi meu segundo marido, José Aparecido da Silva. Com o pai, ela só teve relacionamento há três anos. Antes disso, ele mudou para Minas Gerais e nunca tinha procurado ela.” Maria e o segundo marido não tiveram filhos, mas criaram o hoje adolescente Manoel Felipe, 17, como irmão de criação de Luciene. “Ela era madrinha dele, os dois eram muito ligados. Ele está sofrendo muito”, diz Maria. A ligação com a família era uma característica que podia ser facilmente notada em Luciene. Mãe de uma adolescente de 13 anos, fazia questão de expressar seu amor pela jovem. “Com você, sempre tenho um abraço, um carinho. Você é tudo na minha vida, eu amo você”, postou numa rede social, no dia 23 de setembro.
Extremamente reservada Descrita por familiares e amigos como mãe dedicada, profissional exemplar, vaidosa e brincalhona, Luciene não chegou a comentar sobre possíveis problemas pessoais no trabalho. “Quanto ao relacionamento, ela era extremamente reservada, ninguém sabia que ela estava com problemas. Foi uma surpresa tudo o que aconteceu”, diz a fisioterapeuta Thatiana Pereira, que trabalhava com Luciene. Thatiana fala com carinho de um presente recebido da colega de trabalho. “Gosto muito de um padre que ela conhecia, e ela me presenteou com um livro dele”, conta. De acordo com Thatiana, a técnica de enfermagem era uma pessoa alegre, animada, brincalhona. “Ela era desembaraçada, vaidosa. Mas fazia uns dois meses que sentia ela muito estressada e distante nos pensamentos. Estava fria, menos sorridente”, diz.
Origem humilde Luciene Ferreira Sena chegou a trabalhar na roça e chamava a atenção pela determinação. “A gente nunca teve muita coisa, não. Foi tudo muito difícil”, lembra a mãe de Luciene. A colega de trabalho Thatiana corrobora as palavras. “A família dela é muito simples e humilde. São pessoas de pouco estudo e tinham muito orgulho dela, pois ela batalhou e se formou. Estava muito bem no emprego. E nunca teve vergonha de falar das suas raízes, sempre deixou claro que qualquer serviço ela encarava. Era muito corajosa.” Eliane Araújo, também colega de trabalho, conta que dividia o plantão na Santa Casa com Luciene. “Ela era uma excelente companheira de trabalho, sempre atenciosa e disponível”.
Luana Leite, uma das amigas mais próximas, diz que a disposição em ajudar o próximo era uma característica de Luciene. “Ela foi um ser especial. A própria profissão que escolheu mostrava isso. Éramos como duas irmãs, sempre apoiando uma a outra”, diz. Já Graciella Dyas, amiga da vítima há mais de dez anos, conta que sempre que se encontravam o carinho era o mesmo. “Ela era um pouco tímida, mas com aquele sorriso no rosto. Luciene era uma pessoa que tirava dela para dar para os outros, um coração muito bom e uma excelente mãe, sempre grudada com a filha”, diz a amiga. “Da Luciene guardaremos o sorriso e o coração generoso que ela tinha. Era uma pessoa maravilhosa, batalhadora e honesta, não merecia esse fim tão triste”.
do site Universa