Esquema de abortos clandestinos |
O Fantástico desse domingo (6) mostrou uma reportagem sobre a prisão de Luciane Fernandes Ferreira, acusada de realizar mais de 200 abortos clandestinos em quartos de hotel de Belo Horizonte. Quanto mais avançada a gestação, mais ela cobrava pelo serviço, que variava entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. Luciana chegou a realizar o procedimento em mulheres com sete meses de gestação, e utilizava medicamentos de uso veterinário, que até para aplicação em animais, apresentava restrições.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) 2016, quase 1 em cada 5 brasileiras, aos 40 anos já realizou, pelo menos, uma situação de abortamento. Isso significa que alguma mulher que faz parte do seu círculo familiar, social, ou profissional, já interrompeu a gravidez. Outros dados importantes: de acordo com o Ministério da Saúde, o aborto é a 5ª causa de morte materna no País; a Organização Mundial de Saúde aponta que 73% das mulheres que interromperam a gravidez estavam casadas ou em relacionamentos estáveis; o aborto previsto em lei custa, segundo a Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS, é de R$ 443 (dado de 2018); de 2006 a 2017, o SUS gastou quase R$ 500 milhões (sim, milhões) com internações por complicações pós aborto.
Juntando essas poucas informações ditas até aqui, chegamos à algumas conclusões bem óbvias:
1. Apesar de ser considerado crime, as mulheres continuam a interromper uma gravidez indesejada, independente se o procedimento for seguro, ou não.
2. Realizar o procedimento de forma legal é muito mais barato para o SUS do que arcar com eventuais complicações.
3. Não são as solteiras “promíscuas” quem mais abortam.
4. O problema do aborto no Brasil não é de Segurança Pública, mas de Saúde.
5. Estamos falando de número e dados, não de questões éticas, morais ou religiosas.
Enquanto o debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil for conduzido sob a ótica do conservadorismo cristão, mulheres vão continuar morrendo ou sofrendo consequências cruéis e desumanas.
Enquanto o poder público e a sociedade não oferecem condições para que crianças possam viver com garantias de que terão educação, saúde e assistência social de qualidade, e que as mães receberão apoio institucional para que possam continuar a exercer sua cidadania com dignidade, mulheres vão continuar morrendo ou sofrendo consequências cruéis e desumanas.
Enquanto o abandono parental, que faz com que mais de 5 milhões de crianças brasileiras não tenham o nome do pai no registro de nascimento e enquanto esses homens não começarem a ser responsabilizados por cometer o aborto paterno, mulheres vão continuar morrendo ou sofrendo consequências cruéis e desumanas.
Precisamos falar sobre isso.