Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, será canonizada no próximo domingo (13). A partir de então, será declarada santa pela Igreja Católica, título pelo qual já é tratada pelos baianos há décadas. O reconhecimento é por milagres e pela existência dedicada a cuidar dos outros.
Mas a religiosa foi isso e muito mais. Nascida em 1914 em Salvador, ela conviveu com poderosos, fez o Papa mudar a agenda e até político cumprir promessa. Confira dez curiosidades da futura santa brasileira.
1) Nobel da Paz
Irmã Dulce concorreu ao Prêmio Nobel da Paz em 1988. A indicação partiu do então presidente José Sarney e teve apoio da Rainha Sílvia, da Suécia. A religiosa não foi escolhida, mas ter o nome cogitado fez a obra de Irmã Dulce ser reconhecida mundialmente.
2) Galinheiro virou hospital
Principal legado da freira, as Obras Sociais Irmã Dulce realizam 3,5 milhões de procedimentos de saúde por ano. E tudo nasceu de um galinheiro. As raízes do trabalho são de 1949, quando ela não tinha espaço para abrigar 70 doentes. A religiosa pediu autorização a sua superiora para abrigar essas pessoas em um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio. O episódio fez nascer a frase de que o maior hospital da Bahia surgiu a partir de um galinheiro.
3) Contestando o general
Irmã Dulce atendia cada vez mais gente em suas obras de assistência social. Durante a ditadura militar, o presidente João Figueiredo ficou emocionado ao ver a precariedade do Hospital Santo Antônio em visita a Salvador, em 1979, e prometeu ajuda. Passaram-se 30 meses, e nada aconteceu. Até que os dois se encontraram novamente. Irmã Dulce não se intimidou com o cargo de Figueiredo e disparou:
“Já falei com Santo Antônio e ele me disse que o senhor só entra lá no céu se nos ajudar na construção do novo hospital”. O presidente da República repetiu o compromisso e prometeu ajuda nem que tivesse de assaltar um banco. Rápida de raciocínio, Irmã Dulce emendou: “Pois o senhor me avise, que vou com o senhor”.
4) Telefone vermelho
Irmã Dulce se dedicava aos humildes, mas convivia com os poderosos. Assim, conseguiu doações de gente como o empreiteiro Norberto Odebrecht, o banqueiro Ângelo Calmon de Sá, o ex-governador Antonio Carlos Magalhães e José Sarney. A proximidade com o primeiro presidente depois da redemocratização era tão grande que ele deu a Irmã Dulce o telefone de seu gabinete. Dizia-se que a religiosa era a única pessoa que não era ministro ou militar a ter o número do famoso “telefone vermelho”. Apesar de conviver com poderosos, ela nunca subiu em um palanque político. Quando perguntavam qual era sua afiliação política, Irmã Dulce respondia “Partido dos Pobres”.
5) Dulce foi homenagem à mãe
A nova santa brasileira era filha de um dentista de classe média e tinha aqueles nomes longos típicos de quem nascia no começo do século passado. Foi batizada como Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Quando entrou na vida religiosa e recebeu o hábito, escolheu outro nome: Irmã Dulce, em homenagem à mãe, Dulce Maria. A progenitora morreu de hemorragia após um parto, quando Irmã Dulce tinha 7 anos.
6) Primeira devoção foi ao futebol
A morte da mãe obrigou o pai de Irmã Dulce a ser mais presente, e ele escolheu o futebol para unir a família. Todo domingo, ele levava as cinco crianças para o Campo da Graça, principal estádio da Bahia na época. A garota se tornou torcedora ferrenha do Ypiranga. Na década de 1920, o clube conquistou o campeonato estadual cinco vezes e era o principal rival do Vitória. Irmã Dulce gostava tanto de futebol que, quando aprontava alguma travessura, era proibida de ver os jogos. Esse era, para ela, o pior castigo.
7) Dormindo sentada
Irmã Dulce esteve perto de sofrer de novo o trauma de perder um parente querido ao fim de uma gestação: a sua irmã teve uma gravidez cheia de complicações. Em 1955, ela fez a promessa de dormir em uma cadeira se a gestação terminasse bem, o que acabou acontecendo. Ela cumpriu a palavra. Só voltaria a dormir em uma cama 30 anos depois, quando sofria de problemas de saúde e foi convencida pelos médicos porque poderia piorar.
8) Emoções eu vivi
Irmã Dulce admirava a arte, principalmente de música. Gostava de forró e ainda tocava gaita. Além das obras sociais, ela fundou o Cine Roma em 1948, que além de filmes, recebeu shows. Foi no palco montado por Irmã Dulce que Roberto Carlos fez seu primeiro show na Bahia, em 1965. No lugar, Raul Seixas e Waldick Soriano também se apresentaram. 9) Respeito pelo Papa João Paulo II Como ocorria com boa parte dos católicos do Brasil, Irmã Dulce era admiradora do Papa João Paulo II. Ela já estava com problemas no pulmão na primeira vez que o Pontífice esteve em Salvador, em julho de 1980, em um dia de muito vento e chuva. Mesmo assim, compareceu na missa campal celebrada por João Paulo II.
Irmã Dulce foi chamada ao altar para receber uma bênção especial do Papa, enquanto era ovacionada pela multidão: “Ela merece, ela merece. Irmã Dulce, Irmã Dulce”, gritavam. Mas houve uma consequência. A religiosa contraiu pneumonia e passou os 20 dias seguintes internada.
10) Respeitada pelo Papa João Paulo II
O Papa João Paulo II retornou a Salvador em outubro de 1991. Desta vez, ele é quem foi até Irmã Dulce. O encontro entre ambos não estava programado e o Pontífice mudou a agenda para ir ao Convento Santo Antônio visitá-la. Ela já estava com a saúde bastante debilitada. Havia anos que sofria de enfisema pulmonar e sua capacidade respiratória chegou a ser reduzida em 70%. O Papa pediu para seu carro parar no hospital de Irmã Dulce e entrou no quarto que funcionava de UTI. João Paulo II segurou na mão da religiosa e foi reconhecido. Após o encontro, que durou alguns minutos, o Papa se ajoelhou aos pés da escada que levava ao quarto de Irmã Dulce e rezou. Na sequência, disse: “Esse é o sofrimento dos inocentes. Igual do de Jesus”.
Irmã Dulce morreu cinco meses depois.
do UOL