Também conhecida como preservativo interno, a camisinha feminina passou a ser distribuída gratuitamente através do Sistema Único de Saúde no ano 2000. Apesar de não ter se tornado popular entre as estratégias de prevenção, o governo federal brasileiro é o que mais compra esse tipo de preservativo no mundo. No ano de 2019 foram adquiridas 35 milhões de unidades do produto.
No entanto, a última licitação realizada pelo Ministério da Saúde, no ano de 2018, utilizou como critério único o menor preço do produto, o que acarretou na compra de um preservativo que está sendo repudiado pelas usuárias. Entre as principais mudanças está o material com que o preservativo é fabricado. O preservativo disponível anteriormente é feito de borracha nitrílica, que é antialergênica. Já o produto atual é feito de látex, que pode causar diversas reações alérgicas, além de ser mais espesso e menos confortável.
Assim, o preservativo vaginal deixou de ser visto pelas mulheres como uma alternativa ao peniano, que já é feito de látex. A ativista Vanessa Campos, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, conta que utilizava o preservativo feminino até a mudança acontecer. “O preservativo vaginal/interno de borracha nitrílica foi pensado como um produto específico para vaginas e que considera as vulnerabilidades que a mulher enfrenta nesta sociedade estruturalmente machista. Sabemos que, ao ser colocado dentro da mandala da prevenção combinada, faz um contraponto ao preservativo peniano de látex. Além disso, a borracha nitrílica, por não ser alergênica, permite que o preservativo seja colocado com até oito horas de antecedência e não é necessário aguardar a ereção do pênis, tornando-se, inclusive, um argumento poderoso na negociação de seu uso com homens resistentes ao preservativo e também alérgicos ao látex. E isso dá segurança e autonomia para a mulher sobre sua decisão de prevenção a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidez, hepatites virais e zika vírus.”
Vanessa também explica que há detalhes a serem considerados na hora de pensar na prevenção da mulher, como a menopausa e o prazer sexual. “Por ser resistente e mais fino, o preservativo de borracha nitrílica proporciona maior conforto inclusive para mulheres na menopausa e com ressecamento vaginal. Isso diz muito sobre o quanto nossos corpos e prazeres precisam ser valorizados e visibilizados dentro das estratégias de prevenção. A borda octogonal e a esponja do novo preservativo não priorizam o conforto e nem o prazer da mulher.”
“Essa pretensa economia, comprando produto de baixa qualidade, desconsidera os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, o prazer e especificidades femininas. É prejudicial à saúde e não favorece a prevenção às ISTs, ao HIV/aids e hepatites virais”, diz a ativista, que deixou também de realizar atividades de conscientização para uso deste preservativo.
do site Universa