Busca por independência, aumento de renda ou falta de escolaridade. Estas são as razões mais comuns que fazem com que cada vez mais mulheres recorram a construção civil. Lá elas encontram não apenas uma renda sólida, mas também uma carreira. Com 109.006 trabalhadoras registradas em 2007 e 239.242 em 2018, de acordo com o IBGE, a presença de mulheres na construção civil cresceu 120% nesses 12 anos.
“São muitas as mulheres em vulnerabilidade pela falta de emprego aliada a baixa escolaridade, mas a construção civil as abraça muito”, conta Maria do Amparo Xavier, a primeira mulher mestre de obras do estado e secretária de políticas para as mulheres do Sindicato da Construção Pesada e Montagem Industrial (Sintepav) na Bahia. Mesmo sendo uma área historicamente masculina, ela explica que a procura parte tanto das empresas quanto das mulheres.
Há mais de 30 anos na construção civil, Ana Rita Souza da Paixão, de 58 anos, atualmente exerce a função de ajudante prática, onde é responsável por aplicar o rejunte e realizar a limpeza durante e no final da obra. “É um trabalho digno e que qualquer mulher pode fazer. Quando você se adapta, realmente acorda com aquela vontade e prazer de ir para o trabalho”.
Vinda do interior ainda jovem, onde trabalhava em plantações, Ana Rita é veemente quando diz que qualquer mulher é capaz de trabalhar na construção civil. Com ou sem curso profissional, muito é aprendido no dia a dia, e ela afirma que grande parte do que tem hoje conquistou graças ao seu trabalho no setor. “Trabalho com muito gosto desde 85 e sei que logo vou me aposentar, mas até lá espero incentivar e trazer ainda mais mulheres para a construção”.
O atual trabalho de Ana Rita é em um dos empreendimentos da construtora Santa Emília, há 20 anos em Salvador e que, de acordo com sua diretora de marketing, Luciana Segura, teve a entrada de mulheres nas obras bem naturalmente. “Percebe-se que há um movimento das mulheres para atuar ativamente no setor, assim como as empresas também estão mais abertas. Hoje, não é mais incomum ver mulheres trabalhando em diferentes fases da construção”.
Alerta profissional
Ainda existe, no entanto, muitos desvios de função, conta Maria do Amparo. “Em meu trabalho no Sintepav sempre tive muito cuidado em alertar essas mulheres e as empresas de que essas profissionais não podem, por exemplo, entrar como servente, fazer um trabalho como contadora e sair como servente. É algo que ainda debato muito atualmente, mas que já vinha falando antes mesmo do projeto”.
O Marias na Construção (nome dado em homenagem a Maria do Amparo) é um projeto da prefeitura iniciado este ano, que busca capacitar gratuitamente mulheres com escolaridade primária, com o Senai dando qualificação profissional, a Codesal oferecendo informações de segurança, o Sebrae informando sobre empreendedorismo e acesso ao crédito, e a Seinfra inserindo no mercado de trabalho as alunas destaques.
“O Marias foi pensado sob medida para encaixar no perfil da mulher soteropolitana e possui o plus de ser um programa itinerante, que atende essas mulheres em seus próprios bairros”, explica a vereadora Rogéria Santos, idealizadora do projeto. Ela salienta que a carência de qualificação das mulheres na cidade é grande, não só na construção.
Do A Tarde