William de Lucca |
A discussão sobre homofobia no futebol ganhou mais força e espaço com a recente medida do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) de punir clubes cujas torcidas cantem gritos homofóbicos. A punição pode ser de multa ou perda de pontos e desde que entrou em vigor já modificou – ao menos um pouco – o cenário: pela primeira vez no País uma partida foi interrompida por causa dos gritos de “viado”. Além disso, diversos clubes da série A do campeonato Brasileiro se uniram em um manifesto contra a homofobia.
“Temos uma redução no grito de ‘bicha’ feito coletivamente pelas torcidas, mas as ofensas individuais seguem acontecendo, e para que isso acabe de vez é preciso educar o torcedor sobre o tema, de forma permanente, como se faz com o racismo e o machismo”, afirma William de Lucca, 32, ativista LGBT e co-fundador dos coletivos Palmeiras Livre e Resista SP.
A medida do STJD atende à recente criminalização destas ações no País estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu em junho deste ano que a LGBTfobia deve ser equiparada ao crime de racismo ― pena é de até 3 anos e crime será inafiançável e imprescritível ― e também a diretrizes internacionais da Fifa, que já pune com multa ações do tipo.
Apesar de ser um grande passo, o processo para que o futebol seja mais inclusivo e que os estádios se transformem em locais realmente seguros para o público LGBT ainda é longo. Torcedor do Palmeiras desde a infância, De Lucca frequenta estádios há anos e em 2018 recebeu ameaças e ofensas após criticar os cantos homofóbicos durante partida de seu time contra o São Paulo.
De acordo com o Atlas da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cresceu 10% o número de notificações de agressão contra gays e 35% contra bissexuais de 2015 para 2016, chegando a um total de 5.930 casos, de abuso sexual a tortura.
Canal oficial do governo, o Disque 100 recebeu 1.720 denúncias de violações de direitos de pessoas LGBT em 2017, sendo 193 homicídios. A limitação do alcance do Estado é admitida pelos próprios integrantes da administração federal, devido à subnotificação e falta de dados oficiais.
“Com os clubes se posicionando, quem acha que o futebol é um espaço de intolerância perde incentivo de discriminar livremente”, aponta Lucca, ao elogiar as ações recentes que o Bahia têm promovido como, por exemplo, a criação do “Núcleo de Ações Afirmativas” dentro do clube e ao fazer apelo para que clubes paulistas como Palmeiras, São Paulo e seus rivais se posicionem.
Acompanhe aqui a entrevista completa:
do HuffPostBrasil