Sonia Silva e sua coleção |
Bem distante do mundo dos contos de fada e perto da realidade de muitas crianças. A partir de um desafio feito por uma psicanalista, a artesã Sônia da Silva, de 55 anos, mudou a sua realidade e de vários pequenos que enfrentam as limitações e preconceitos por causa de alguma deficiência. A confecção de bonecas inclusivas a curou de uma depressão adquirida após perder a audição do ouvido esquerdo, e tem ajudado a resgatar a autoestima de crianças e adultos. O mundo infantil dominado por personagens dentro dos padrões estabelecidos como normais dá espaço a bonequinhas com vitiligo, deficiência visual e auditiva, próteses e Síndrome de Down. E ainda cadeirantes, albinas e transplantadas.
A artesã se inspirou em pessoas com alguma deficiência e atletas paralímpicos, e faz sucesso com suas criações nas redes sociais. Sônia da Silva já foi professora em Florianópolis, Santa Catarina, mas teve que interromper a carreira por causa da perda de audição em um dos ouvidos.
— É preciso que as crianças com algum tipo de deficiência se sintam representadas. As bonecas fazem com que elas se vejam — defende Sônia da Silva. — Me inspiro também nos atletas paraolímpicos e faço estas bonequinhas por eles. Quero passar a ideia que todo mundo é igual, inclusive as bonecas. Infelizmente há o preconceito de algumas mulheres que proíbem as filhas de comprar as bonequinhas por elas estarem faltando uma perna. Gosto de conversar com a pessoa e entender seu problema para fazer uma boneca que a represente. Sonho ver minhas “meninas’’ e meus “meninos’’ (como são chamadas as bonecas) rodarem todo o Brasil e circular por todo o mundo.
Primeira boneca homenageou nadadora
A primeira boneca de prótese de Sônia da Silva, lembra, foi comprada por uma professora, que presenteou a nadadora paralímpica brasileira Camile Rodrigues, detentora de vários recordes nacionais e medalhista nos Jogos Parapan-Americanos de 2011, em Guadalajara. Ela ainda é conhecida por aparecer dançando na abertura do programa “Fantástico’’, da TV Globo.
— A Camile ficou muito emocionada e já fiz até bonequinhas com deficiência visual e roupa de balé para representar dançarinas com histórias de superação. Não queria ficar apenas nas bonecas simples, busquei algo mais, que pudesse fazer diferença na vida das pessoas. Vendi para São Paulo uma boneca com prótese para uma menina que perdeu uma das pernas, após lutar contra doença, e foi emocionante.
Sônia da Silva lembra que passou mal em 2004. Sentiu muita tonteira e náuseas e foi parar na emergência. Fez tratamento, mas nunca conseguiu um diagnóstico fechado sobre o que aconteceu. Um dia estava em casa, e, ao atender o telefone, descobriu que não estava escutando nada no ouvido esquerdo.
— Depois disso, queria voltar para a escola e dar aula, mas não consegui. Foi um período muito difícil. Perdi a lateralidade e precisava sair sempre acompanhada. Para uma pessoa que sempre foi independente e ativa, foi muito complicado. Entrei numa depressão profunda. Outro problema foi o esquecimento. Passei a ter muitos lapsos de memória e esqueço as coisas com frequência. Só melhorei com o artesanato. Hoje nem tomo mais remédio para a depressão — conta a artesã.
A Sônia Art’s fica no Jardim Iguaçu. O preço das bonecas varia de R$ 75 a R$ 170. Encomendas podem ser feitas pelo telefone: (21) 99482-9397.
do site Extra