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Mulheres vítimas de violência doméstica faltam em média 18 dias de trabalho por ano, o que gera uma perda anual de aproximadamente R$ 1 bilhão ao país. Além disso, essas mulheres apresentam problemas de concentração e estresse relacionados ao trabalho.
As conclusões estão na Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, feita pela UFC (Universidade Federal do Ceará) em convênio com o Instituto Maria da Penha. Os resultados da segunda fase do estudo foram apresentados na USP (Universidade de São Paulo) no fim de outubro. A pesquisa está agora em uma terceira fase, que vai entrevistar mulheres em diferentes capitais de todas as regiões do país: São Paulo, Porto Alegre, Goiânia e Belém, além de Fortaleza, Salvador e Recife.
A Paraíba registrou 2.002 notificações de violência doméstica em 2018.
Ao todo foram acompanhadas 10 mil mulheres durante dois anos, entre 2016 e 2018, nas nove capitais do Nordeste. A partir das informações coletadas na região, o pesquisador fez uma projeção do prejuízo da violência contra a mulher para todo o país em R$ 1 bilhão ao ano.
O coordenador da pesquisa, José Raimundo Carvalho, professor do programa de Pós-Graduação em Economia da UFC, explica que a perda de dias de trabalho pela violência é apenas um de uma série de impactos na atividade de trabalho das mulheres.
A pesquisa separou as mulheres que foram vítimas de violência das que não foram e percebeu uma série de dificuldades a mais ligadas ao trabalho e ao desempenho de tarefas entre as vítimas.
Entre as que sofreram violência, por exemplo, 60,6% se sentem frequentemente estressadas, contra 42,8% das que não passaram por situações de agressão. Entre as vítimas, apenas 58,3% dizem que conseguem tomar decisões com frequência, em oposição a 74,3% das que não sofreram violência.
Além disso, a violência afeta diretamente a felicidade dessas mulheres: apenas metade das que passaram por episódios
de agressão afirma que se sente feliz frequentemente. Entre as mulheres que não enfrentam violência, esse número salta para 74,5%.
Instabilidade no emprego
“Ser vítima de violência doméstica também está associado a uma maior instabilidade no mercado de trabalho. Ou seja, essas vítimas intercalam períodos de curta duração de emprego com períodos de curta ou longa duração de desemprego”, diz Carvalho.
Segundo a pesquisa, 23% das mulheres vítimas de violência doméstica nos 12 meses anteriores à consulta disseram que recusaram proposta ou desistiram do emprego por causa do parceiro. Para aquelas que não são vítimas, essa proporção é de apenas 9%.
“Elas têm mais dificuldade porque, além da questão física, o marido pratica a sabotagem.”Carvalho lembra ainda que o Brasil é um dos campeões em acidentes de trabalho. “Parte desses acidentes pode ser causada porque a mulher não se concentra, tem estresse “, afirma.
“Acho que a grande contribuição dessa pesquisa é lançar uma base de dados inédita sobre as várias dimensões da violência. A gente tem que incluir o debate para as futuras gerações”, diz.
Violência e seus impactos
Para a psicóloga Artenira Silva, especialista em violência contra mulheres, a pesquisa ajuda a entender como o fenômeno da violência doméstica é “multifacetado, de alta complexidade e com muitas especificidades”.
Artenira diz que os dados da pesquisa levam a uma séria reflexão. “A violência doméstica constitui dano laboral ou de projeto de vida da mulher. Ela tem efeito desestruturante na vida dessa mulher, a ponto de intervir na sua capacidade laboral, maternal e de reação”, afirma.
“Muitas dessas mulheres abandonam emprego, casa, mudam de cidade, de bairro, porque o sistema de justiça e a rede de proteção não dão conta da complexidade dessa violência. E elas acabam assumindo enquanto um dano, o que elas não se dão conta de ser um dano de fato existencial.”
do site Universa