Aline Regina, enfim divorciada e feliz da vida! |
Depois de sair do fórum da cidade de Guaratuba, no Paraná, com os papéis do divórcio em mãos, Aline Regina de Freitas Leite, 24, postou em sua página no Facebook uma foto com a boca aberta e a seguinte legenda: “Fui ali, me divorciei e já voltei!!! Tem coisas na vida que a gente não perde, a gente se livra!!!.”
O post foi o desabafo de uma mulher que cresceu vendo a mãe ser agredida pelo pai, casou-se aos 16 anos, viveu um relacionamento de oito e, nos últimos dois anos, viu a história se repetir, ao ser humilhada, ofendida e agredida pelo marido.
Em pouco tempo, o post viralizou: foram mais de 10 mil compartilhamentos e 3.500 comentários. São mensagens de apoio de mulheres de vários estados brasileiros e até de fora do país.
Aline se surpreendeu com a repercussão. “Quando eu saí do fórum, minha mãe tirou a foto. Eu estava feliz porque tinha ganhado a guarda das minhas filhas. Achei que o post fosse rodar no máximo na cidade. Postei e fui tomar um açaí, deixei o celular em casa. Quando voltei tinha mais de mil curtidas. Cada hora que eu olhava, aumentava mais”, conta.
Aline resolveu se divorciar em março deste ano. Foi o primeiro passo rumo à nova vida de que desfruta hoje e que inclui um emprego de operadora de caixa em um supermercado, com o qual mantém o aluguel da casa onde mora com as duas filhas, além de momentos de diversão, alívio e paz.
Quando estava casada, Aline trabalhava com o então marido em uma hamburgueria que os dois montaram. Mas cansou de ouvir, durante as discussões, que ela não tinha nada, que poderia ir embora de casa, que os bens conquistados pela família eram somente dele.
Apanhou pela primeira vez quando estava grávida
Quando se casou, aos 16 anos, Aline precisou uma autorização formal dos pais, já que não tinha 18 anos. Quando engravidou pela primeira vez, nem tinha concluído o ensino médio. Durante o namoro e no início do casamento, o companheiro nunca havia dado sinais de que era uma pessoa agressiva. Mas foi durante uma briga, quando ela estava grávida da primeira filha, que Aline apanhou pela primeira vez.
“A gente discutiu e ele meu deu um tapa no rosto e uns empurrões, foi fora do normal. Foi horrível, fiquei abalada, mas ele se desculpou. Acabou passando, voltamos a viver bem.”
A primeira filha do casal nasceu em 2013. Um ano e meio depois, Aline engravidou novamente. No entanto, nos dois últimos anos do casamento, as agressões passaram a ser frequentes. Nessa época, Aline descobriu que o marido era usuário de cocaína.
“Nosso casamento mudou completamente. Cada vez que a gente discutia ele queria me agredir. Eram empurrões, tapas, apertos, puxão no cabelo. Eu vivia roxa, marcada. Cada vez que alguém perguntava sobre as marcas, eu mentia, disfarçava. Minha família só soube depois que me separei.”
Foi por medo e vergonha de se expor que Aline não contava para ninguém o que vivia. Também acreditava que não iria mais apanhar. Muitas vezes, ele se desculpava, dizia que não se orgulhava de ter perdido o controle, que ela não merecia aquilo e que as agressões não iriam se repetir.
“Nunca gostei de expor minha relação. Quando a gente separou, foi uma surpresa, as pessoas achavam que éramos o casal perfeito. Eu também não denunciava porque tinha pena, sabia que ele teria problemas, era o pai das minhas filhas, achava que não ia fazer mais. Eu perdoava.”
Ainda assim, quando discutiam, quem ameaçava pedir o divórcio era ele. Nessas horas, Aline pensava em como seria difícil criar e sustentar as duas filhas sozinha. “Não tomava nenhuma atitude por medo. Pensava: ‘Como vou criar as meninas sozinha? Como vai ser? Como vou trabalhar e cuidar delas ao mesmo tempo? Tudo isso me fazia aguentar aquela relação’.”
A gota d´água foi durante o Carnaval deste ano. Os dois estavam em uma festa na cidade, Aline pediu para voltar para casa e ele não gostou. “Ficou transtornado, virou um copo de uísque na minha cara, entrou no carro e me deixou a pé. Tive de ir embora andando em uma rua escura e deserta.”
Quando Aline chegou em casa, o portão estava trancado. “Ele não queria me deixar entrar. Só abriu porque ameacei chamar a polícia. E me disse: ‘Se tivesse acontecido algo com você, seria a solução dos meus problemas’. Discutimos mais, ele me empurrou. Me bateu o desespero: precisava dar um basta naquilo.”
Aline foi para a casa de uma amiga com as duas filhas. Dias depois, ele ainda foi procurá-la para tentar a reconciliação. “Não queria repetir a história da minha mãe”
O casamento nunca mais foi retomado. Aline logo conseguiu o emprego no supermercado e alugou uma casa ao lado de onde a mãe mora, o que ajuda com as crianças. Da antiga casa, trouxe alguns móveis apenas. “Carro, moto, casa ficou tudo para ele.”
O ex vê as filhas em fins de semana intercalados. Quando está sozinha, Aline aproveita para sair e se divertir com os amigos. “Vivo muito melhor hoje do que quando era casada. Eu trabalho, é cansativo, sim, mas tenho dinheiro para pagar meu aluguel. Não tenho mais carro, mas me viro com a minha bicicleta. Minha autoestima foi lá em cima, tudo melhorou para mim.”
Quando já havia saído da casa onde ambos moravam, Aline chegou a ser agredida mais uma vez. O ex-marido deu um soco no braço dela. Mas, pela primeira vez, a jovem registrou um boletim de ocorrência e conseguiu uma medida protetiva contra ele pela Lei Maria da Penha.
Depois disso, ele pediu a guarda das filhas, alegando que a ex-esposa “vivia em balada e tinha abandonado o lar”, mas o pedido foi negado pela Justiça. “Foi negada de cara, sempre fui boa mãe. Eu saio, sim, quando as crianças não estão comigo. Isso não é argumento, sou solteira.”
Aline diz que o maior conselho que ela pode dar às mulheres que vivem situações parecidas é o de não se deixar levar por sentimentos como “ele me ama, isso vai passar”.
“Minha mãe teve um marido agressor. Muitas vezes eu presenciei ela apanhando. Ela só começou a ter vida depois que meu pai morreu. Eu não queria isso pra mim, mas a história estava se repetindo e me encorajou a sair dessa situação.”
do site Universa