O mundo anda tão louco que hoje a maior representação de uma sociedade justa e progressista é o papa Francisco. Não é à toa que ele tem recebido fortes críticas dos setores mais conservadores não só da Igreja Católica, mas dos reacionários em geral.
Numa decisão inédita e histórica, o papa Francisco aboliu o segredo pontifício das denúncias, processos e decisões relativos aos casos de abusos sexuais. O silêncio até então dificultava o acesso das autoridades de Justiça às investigações de crimes cometidos dentro da Igreja. A partir de agora, portanto, as autoridades religiosas devem compartilhar informações com a polícia e a Justiça.
Isso significa muita coisa. Há anos a Igreja tem fechado os olhos para os casos de abuso sexual e estupro contra crianças e adultos.
Até meados dos anos 80, a Igreja Católica na Irlanda mantinha “campos de concentração” com meninas que haviam sido estupradas ou que tinham engravidado. Elas eram jogadas nesses lugares por terem se tornado uma mancha… Lá elas eram abusadas, seviciadas, escravizadas, tinham seus filhos tomados e o mundo passou décadas fechando os olhos para o abuso.
Em Boston, nos EUA, uma grande reportagem do The Boston Globe denunciou os casos de estupro que se seguiam por anos, sendo a única ‘punição’ era a transferência dos padres acusados para outras paróquias, onde eles voltavam a cometer os mesmos crimes.
No Brasil, um país (ainda) majoritariamente católico, os abusos sexuais e estupros foram mantidos em segredo quase absoluto. Muito pouco se avança nas quase inexistentes denúncias.
Francisco também mudou um critério sobre o que o Vaticano considera ser pornografia infantil. Até então, tratava-se de “aquisição, detenção ou a divulgação, para fins libidinosos, de imagens pornográficas de menores de 18 anos” por parte de um clérigo. Considerava-se pornografia infantil a detenção de material pornográfico de menores de 14 anos; agora, são as de menores de até 18.
Nas alterações, também foi eliminada a obrigatoriedade de que o advogado e o procurador nesse tipo de crime seja um sacerdote.
Sem querer julgar as crenças alheias, até porque isso é inconstitucional, é preciso reconhecer que quando a autoridade máxima da instituição resolve abrir a caixa de Pandora, é necessário comemorar sim. Mas é preciso aguentar o tranco.
Que a decisão do papa Francisco consiga, mesmo que com atraso trazer justiça às vítimas e evitar novas tragédias.
da redação, com informações do ClickPB