Nathália Rodrigues te ensina! |
Não tá fácil pra ninguém e a tendência é piorar. Diante de um quadro econômico desolador, aprender a administrar o pouco que se tem (quando se tem!) pode deixar as coisas um pouco menos difíceis.
Foi pensando nisso que Nathália Rodrigues começou a se interessar por educação financeira. Natural de Nova Iguaçu, ela trabalhava em uma loja de calçados, em que uma de suas tarefas era oferecer o cartão de crédito do estabelecimento aos clientes.
Ela garante que batia as metas, mas não sem fazer ponderações com quem aparecia. Falar com os frequentadores da loja deu o estalo necessário para começar o próprio negócio.
Surgiu assim o canal no YouTube que batizou de “Finanças com a Nath”, no início de 2019. Prestes a concluir a graduação em administração, Nathália aposta em vídeos curtos para chegar ao público de baixa renda.
Ela destaca que a proposta é moldar as dicas à realidade de quem ganha pouco. Guardar cifras muito altas todos os meses ou fazer investimentos de risco, por exemplo, estão fora de cogitação. “Eu não tenho como falar para uma pessoa guardar mil reais por mês, porque esse é o salário todo dela ou nem isso”, explica.
Parte da categoria de “microinfluenciadores” — cuja presença digital conta com entre 10 mil e 100 mil seguidores ( no final de dezembro de 2019, o “Finanças com a Nath” tinha 17,7 mil) —, Nathália explica o beabá para quem quer poupar e investir também por redes como Twitter e Instagram.
Vídeos recentes do canal abordaram temas como “Black Friday Vale a Pena?”, “Golpe da Conta Corrente” e “Como Fazer Sua Reserva de Emergência”.
Educação vem de casa
A jornada rumo à educação financeira não começou exatamente nas filas de loja. As dificuldades encaradas pelo pai, que aderia a numerosos cartões, chamaram a atenção muito antes.
Em casa, Nathália começou a falar com o pai sobre o assunto. Já cursava a faculdade de administração como bolsista, e começava a ter contato com conceitos-chave em finanças.
“Eu comecei a encorajar para que ele anotasse os próprios gastos, para que diminuísse o número de cartões de crédito. Ele não tinha costume de se organizar financeiramente”, conta a jovem de 21 anos.
“Ele só anotava o que gastava mentalmente, de cabeça. Queria guardar dinheiro, mas não sabia onde gastava.” Com as despesas na ponta do lápis, ficou mais fácil ajustar as contas.
Nesse processo de adaptação, Nathália identifica um benefício adicional: os impactos na saúde mental. “Meu pai ficava muito triste, e sempre no final do mês vinha aquele estresse porque não sobrava dinheiro.”
“A necessidade do meu pai é a mesma de muitos brasileiros que ganham pouco.”
O contato com conceitos de finanças não mudou apenas o dia a dia do pai, mas o da própria estudante. De início, Nathália conta que exagerava nos gastos com seus primeiros salários.
Entre a ajuda com contas da casa e compras para si mesma, Nathália cometia seus deslizes e “gastava mais do que ganhava” — ainda que, ressalta, nunca tenha ficado com o nome sujo.
“A primeira coisa que eu fiz com meu dinheiro foi comprar um lanche do McDonald’s e um potão de sorvete”, conta ela.
Também para o seu público nas redes, itens do tipo “são uma vitória”. “É aquela roupa que você sempre quis comprar, a comida que sempre quis comer, um iogurte que seja”.
Nesse sentido, ela diz que alinhar as contas faz a diferença. “Todo mundo deveria aprender a organizar seu dinheiro, mas não tem escola que ensine isso desde cedo”.
De A a Z
O que fazer, então, para ensinar finanças sem muitas delongas? A abordagem de Nathália adapta o conteúdo em torno de dois eixos: o tipo de tema selecionado e a forma de explicá-lo a quem assiste.
Os assuntos chegam por cantos variados, podem vir de temas que bombam no noticiário ou de mensagens privadas em redes sociais.
“Se estão falando de contas ativas e inativas do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], eu vou lá e faço”, resume.
O vocabulário ainda é simplificado, na hora de apresentar os vídeos que vão para o YouTube. “Quando falo sobre capital, eu falo de dinheiro, para que as pessoas entendam os termos financeiros que passam no jornal (de TV) e estão nos livros.”
Ela destaca que, ao falar sobre educação financeira, evita a ideia de que se trata de um “passo a passo para ficar rico”.
Em vez disso, as questões que impactam a população de baixa renda têm preferência e viram vídeos explicativos — como, por exemplo, um passo a passo sobre como “limpar seu nome”, renegociar dívidas e manter uma reserva de emergência.
“Eu mostro formas para que as pessoas se organizem — e as pessoas se identificam com o que podem. Se puder guardar 20, 30 reais por mês já é maravilhoso”, detalha.
“Nem sempre é possível, porque acontecem imprevistos. Quebra uma geladeira, um fogão… Mas as pessoas estão aprendendo a se organizar.”
Os resultados chegam pelas redes, em comentários e mensagens privadas que recebe “todos os dias”.
“Recebi uma mensagem de uma pessoa que trabalha, recebendo um salário mínimo, e que não tinha dinheiro para nada. Ela conseguiu guardar 100 reais pela primeira vez e também deixar o nome limpo”, relata Nathália.
O público que chega aos conteúdos tem idades variadas, dos 18 aos 35 anos, mas tem renda similar. “São estagiários, bolsistas, estudantes que ganham um dinheirinho aqui e outro ali, desempregados, gente que ganha um salário mínimo.”
Antes de gravar, ela submete sua explicação a um “teste”. “Eu começo explicando o assunto para o meu pai. Se meu pai entendeu, sei que todo mundo vai entender”.
Segue lá! Finanças com a Nath no youtube
da redação com o G1