Acidentes com crianças crescem 40% nas férias e 66% das ocorrências são dentro de casa

By 13 de janeiro de 2020Brasil


Na casa de Mariana França, mãe de gêmeas de seis anos e uma caçula com três anos, os fatores de risco de acidente estão devidamente identificados e com medidas preventivas adotadas, mas durante as férias escolares ela tem de enfrentar novos desafios. O principal deles é o mapeamento de novos espaços, principalmente durante viagens, quando o quarteto se hospeda em hotéis e pousadas.

De acordo com o observado pela organização Criança Segura, cerca de 40% das mortes e internações decorrentes de acidentes com crianças acontecem nos meses de férias escolares (dezembro a fevereiro e julho), seja no trânsito, em casa ou nos momentos de lazer. O dado é reforçado por estimativas do Ministério da Saúde que sinalizam um aumento de 25% das ocorrências nesse período.

Mariana conta que, no feriadão do Natal, se hospedaram em um quarto com varanda equipado com uma mesa e duas cadeiras. Ela lembra que as meninas foram para essa área assim que a porta foi aberta e logo subiram nas cadeiras, se debruçando nelas. “É muito importante ter um reconhecimento de território antes de colocar as crianças”, enfatiza.

A medida imediata foi fazer com que as meninas descessem das cadeiras e, na sequência, garantir que a porta da varanda permanecesse fechada ao longo dos quatro dias de estada.

O episódio contado por Mariana reforça a recomendação da gestora de políticas públicas da Criança Segura, Eduarda Marsili, sobre aplicar os mesmos cuidados tomados em casa nos ambientes frequentados durante as férias.

Eduarda diz que a organização não tem estudos sobre a concentração dos acidentes nas férias, mas pondera que é um período no qual as crianças passam mais tempo em casa e isso talvez leve os pais a baixarem um pouco a guarda.

Outro aspecto notado pela organização é o aumento das mortes provocadas por queimaduras durante as férias. Eduarda acrescenta que essas queimaduras são causadas principalmente por corrente elétrica e que a prática de empinar pipa seria um dos fatores envolvidos nesse aumento.

Um quarto dos casos foram causados por queimadura por líquidos quentes, as queimaduras como segundo grupo em número de internações por acidentes, com 18,5% dos registros do DataSUS em 2018, perdendo apenas para as quedas, que correspondem a 46,1%.

Após os acidentes de trânsito, que lideram as estatísticas em todos os meses, a Criança Segura aponta os afogamentos como segundo tipo de acidente que mais provoca óbitos entre crianças. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo DataSUS e compilados pela organização, referentes a 2017, os afogamentos geraram 26,1% das mortes.

Gravidade

Embora lembre que durante a primeira gravidez sua grande preocupação de segurança foi o berço, Mariana ressalta que estendeu a lógica preventiva a toda a casa após vivenciar o único acidente doméstico que resultou em internação. Ela estava nos meses finais da segunda gestação, e morando fora do Brasil, quando uma das gêmeas se empolgou pulando na cama do avô e acabou caindo.

Mariana recorda que esse tipo de brincadeira já era proibida, mas foi só o tempo de ir ao banheiro para voltar assustada com o grito de dor da menina. A pequena teve de fazer cirurgia, botar pino no cotovelo e passar várias semanas com o braço imobilizado. Ela ressalta que seu pai tinha colocado protetores de quina e de tomadas em toda a casa, mas pondera que alguns riscos não são totalmente controláveis.

Além de medidas como substituir o vidro por acrílico nos pratos e copos, manter liquidificadores e equipamentos elétricos fora do alcance das crianças, quase eliminar o uso de ferro de passar e restringir o acesso à cozinha, Mariana afirma apostar no diálogo. “Não é só trancar ou proibir, tem de explicar porque está fazendo isso”, defende.

Maior número de registros fatais ocorre no trânsito

Seja durante o período de férias ou no restante do ano, o tipo de acidente que mais mata crianças de até 14 anos no Brasil é o ocorrido no trânsito. Embora o número de ocorrências venha caindo ano a ano, 1190 mortes do tipo foram registradas em 2017, em todo o país, de acordo com a organização Criança Segura. Comparando com 2007, quando ainda não havia obrigatoriedade do uso da cadeirinha, a queda foi de 44,3%.

“Temos de lembrar que o carro não foi feito para transportar crianças com segurança”, alerta a gestora de políticas públicas da Criança Segura, Eduarda Marsili, explicando que os carros oferecem segurança para pessoas acima de 1,45 metro. “Se você pega um bebê ou mesmo uma criança até quatro anos, a estrutura deles é muito mais frágil”, reforça.

Eduarda considera que entre os fatores para o aumento proporcional das mortes no trânsito durante as férias estão as viagens típicas do período, mas também a maior frequência de passeios em carros de outras pessoas, que nem sempre contam com a cadeirinha.

Lei

De acordo com a Resolução 277 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), crianças menores de dez anos devem ser transportadas “nos bancos traseiros usando individualmente cinto de segurança ou sistema de retenção equivalente”. Conforme o texto, os equipamentos de retenção são obrigatórios para crianças de até sete anos e meio.

Atualmente, o descumprimento da Resolução é considerado infração gravíssima, com multa de R$ 293,47. O Projeto de Lei 3267/2019, do Poder Executivo, pretende extinguir a multa e aplicar em seu lugar uma advertência por escrito. O relator do Projeto, deputado Juscelino Filho (DEM-MA) se posicionou contra a mudança em seu relatório final.

Do A Tarde

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