Uma coisa que tá sendo difícil de acompanhar hoje em dia, é o Brasil. Você vai dormir tentando digerir o Bolsonaro atacando a imprensa e acorda sabendo que seu secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, publicou um vídeo mal ajambrado citando o ministro de Hitler e usando como tema de fundo uma das óperas preferidas do ditador nazista. É muita coisa pra tentar assimilar, e nem sempre conseguimos.
O vídeo foi divulgado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões.
No vídeo, ele diz: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim no vídeo postado nas redes sociais.
Agora compare com o discurso do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”
Como diria Carluxo, tirem suas conclusões.
Além da óbvia referência, que não deixa a menor sombra de dúvida sobre as referências e preferências de Roberto Alvim e que definitivamente acendo o sinal vermelho do buraco que nos enterramos, tem mais coisas ali pra analisar.
O edital anunciado prevê destinar mais de R$ 20 milhões para fomentar a produção artística em sete categorias: óperas, espetáculos teatrais, exposições individuais de pintura e de escultura, contos inéditos, CDs musicais originais e propostas de histórias em quadrinhos.
Para um artista brasileiro tão acostumado à falta de editais de cultura e financiamento, o edital é bem tentador. Mas ele tem duas armadilhas especialmente perigosas. Primeiro, teremos um material cultural baseado em ideais fascistas e retrógrados, com baixa qualidade artística; os artistas que não se enquadram nessa ideologia nefasta e que se arriscarem a entrar, e talvez ganhar, o edital, correm o risco de ter sua carreira marcada pelo apoio, mesmo que indireto, ao projeto de poder que dialoga tão intimamente com o nazismo.
O Brasil nos obriga a ter insônia.
Taty Valéria