Preparem o estômago e prestem atenção nessa história:
Paola Guzman era uma adolescente de 16 anos, que morava e estudava em Guayaquil, no Equador.
Paola precisava de reforço escolar e o diretor da escola em que estudava se ofereceu para ajudá-la. Passou a ser estuprada constantemente pelo homem que deveria protegê-la. Dois anos de abuso, e Paola engravidou. O diretor sugeriu um aborto. O médico da escola aceitou fazer o procedimento com uma condição: Paola deveria fazer sexo com ele.
Paola decidiu procurar uma supervisora, que diante de tantas tragédias, sugeriu que Paola pedisse perdão pelo que havia feito, e a convidou a rezar (todo país tem sua própria Damares?!).
Além da supervisora, Paola conversou com amigas da escola e uma professora. Falou dos abusos, falou da gravidez, falou do desespero, os funcionários sabiam o que acontecia. Ela não foi ouvida.
Paola se matou tomando veneno. Mas as violências não terminaram aí.
Paola deixou três cartas de despedida: uma pra sua mãe, e as outras duas para seu abusador.
A mãe de Paola, Petita Albarracín, conta que foi chamada pelo médico legista para que pudesse ver, in loco, que não havia gestação alguma e Paola estaria mentindo. Pepita foi obrigada e ver o corpo da filha nu, morto, aberto e dissecado.
“O médico me chamou e ao meu lado estava o corpo nu de minha filha, minha filha aberta e os órgãos. Ele disse: ‘Senhora (mostrando as mãos), há uma carnosidade, esse é o útero. Não há gravidez’, ‘Eu me pergunto, se sou uma mulher ignorante, como eu posso saber se era ou não uma carnosidade? Não posso saber se era um útero”. Violada em vida, Paola continuou violada depois de morta.
Esse caso assombroso aconteceu em 2006.
Não fosse a ação do Centro Ecuatoriano para la Promoción y Acción de la Mujer, teria passado como mais um número.
Amanhã, 28 de janeiro, acontece uma audiência pública na Corte Interamericana de Direitos Humanos para discutir o caso de Paola. Pepita será ouvida numa corte internacional. Será o primeiro caso de “violência sexual contra meninas em escolas” na Corte IDH, descrito como um crime da extensão de quem rompe o futuro da humanidade —direito à vida, integridade, proteção à honra e dignidade, igualdade, educação, saúde.
Essa é a América Latina.
Quantas Paolas ainda somos capazes de produzir, silenciar e assassinar?
Até quando?
Taty Valéria com informações do El País