Quanta dor cabe no peito de uma mãe que tem uma filha?
Todas as mulheres, as 1.206 mulheres vítimas de feminicídio, em 2018, tinham uma mãe. Todas as 180 mulheres que foram estupradas, POR DIA, em 2018, tinham uma mãe. A cada 4 minutos uma mulher sofre violência doméstica no Brasil, e todas elas têm mãe.
Presentes ou não. Das que morreram, ou que foram embora. Das que negligenciaram. Daquelas que não souberam o que fazer ou das que não quiseram ter aquela filha. Todas essas milhares de mulheres eram filhas de outras mulheres.
Mas e a dor da mãe que fica?
Ser mãe de mulher dói mais porque nós sabemos o que o mundo tem para nossa filha. Sabemos porque passamos. Sabemos que parir dói, que amamentar também pode doer. Sabemos que o medo de sermos violentadas se torna insuportável e sufocante quando é nossa filha que está na rua. Sabemos que não podemos escolher o homem que ela vai amar e temos medo porque não estaremos lá, porque nós sabemos o que é sentir medo dos homens.
Sabemos que a vida pesa, e pesa muito, e por isso mesmo sentimos medo porque a vida vai pesar pra nossa filha e, na maioria das vezes, não teremos como ajudá-la a segurar.
Você quer que sua filha seja livre e possa arcar com as próprias escolhas, porque nós passamos por isso e, de um jeito ou de outro, conseguimos seguir em frente. Mas e a dor das nossas filhas? A dor das nossas filhas não tem parâmetro. A dor de uma filha dói mais que qualquer outra dor.
A TV Record exibiu a cena da mãe recebendo a notícia do assassinato da própria filha. Ao vivo. Em cores. Transmitido na TV aberta. Ela grita. Ela cai. Ela chora. A TV do pastor cristão. A dor de uma mãe que chegou à todas as mães.
Se falou o dia todo em limites. “Chegamos ao limite”, eles disseram. Seria bom, se fosse verdade. Seria bom que aquela mãe fosse a última a chorar pela filha. Seria ótimo que aquela mãe fosse a última a servir de palco, de produto, de objeto. A dor daquela mãe é minha também.
Ser mãe às vezes dói. Ser mãe de filha dói sempre.
Bruna, te dedico