A sororidade e a tecnologia à serviço das mulheres que querem viajar sozinhas

By 23 de fevereiro de 2020Lute como uma garota

Mais do que cruzar fronteiras reais, viajar sozinha pode ser uma forma de superar os próprios limites em busca de liberdade, autoconhecimento e novas conexões. Para quem tem tempo e dinheiro, é um privilégio e tanto, mas que se torna uma experiência desafiadora para as mulheres, submetidas a uma espécie de “toque de recolher invisível” que as impede de usufruir dos destinos que se propõem a conhecer com maior sensação de segurança.

O conceito é da brasiliense Jussara Pelicano, criadora do SisterWave, plataforma de hospedagem desenvolvida especialmente para o público feminino com o intuito de desafiar esse estigma social.

“Percebi que as mulheres tinham, em média, duas horas a menos por dia para aproveitar uma viagem. Em muitos lugares, uma mulher viajando sozinha ou ocupando espaços depois de determinado horário é incomum. O objetivo é que elas tenham uma sister local para falar mais sobre o lugar e acompanhá-las em alguns programas. Queremos encorajá-las”, destaca.

Foi uma experiência pessoal vivida em 2017 pela empreendedora que a fez enfrentar o problema. Naquele ano, Jussara viajou para a Itália na companhia de uma amiga. O programado era se hospedarem na casa de um rapaz que elas encontraram em uma rede de couchsurfing. No horário combinado, ele não apareceu e as duas ficaram esperando por horas.

Ao chegar, o anfitrião pediu para passar em uma estação de trem e buscar um amigo. A sequência de imprevistos assustou as turistas, que começaram a desconfiar de uma armadilha. Apenas após chegarem ao imóvel e depois de muita conversa que o pânico se dissipou. O episódio, no entanto, teve influência direta na criação do SisterWave.

Brasileiras no mundo

Após mochilões pela América do Sul, Ásia e por outros lugares do mundo, a publicitária percebeu que a insegurança sentida em sua passagem pela Europa era frequente em grande parte das mulheres que viajam desacompanhadas.

A justificativa para abrir o negócio faz sentido. De acordo com o Airbnb, as brasileiras ocupam a segunda posição no ranking de mulheres que mais viajam sozinhas, atrás apenas das japonesas. Em terceiro lugar, estão as russas.

Outro levantamento, de iniciativa do Booking, aponta que 62% das mulheres latino-americanas já fizeram pelo menos uma viagem sozinhas para outro país. A razão mais citada é a liberdade para fazer o que quiser (35%). Em seguida, falta de companhia (22%), oportunidades de conexão interior (18%) e conhecer gente/fazer novos amigos (12%).

Parecido, mas nem tanto

Apesar da associação direta ao Airbnb, que surgiu 10 anos antes do SisterWave, a empreendedora brasiliense afirma que as duas startups têm dinâmicas bem diferentes.

Uma das diferenças é que o SisterWave só aceita cadastros femininos, embora seja possível que homens morem na residência alugada ou que a sister viva com um companheiro. Essas condições, porém, devem ser conhecidas por ambas as partes e acordadas previamente.

Além disso, não é possível alugar propriedades inteiras. A ideia é justamente fazer anfitriãs e viajantes compartilharem algum tempo juntas. Para dar uma mãozinha, a ferramenta conta com um match de afinidades. A função ranqueia primeiro as pessoas que marcaram interesses e tiveram respostas semelhantes no cadastro.

Além do aluguel de acomodações, o site promove encontros entre as usuárias. “Neste Carnaval, por exemplo, criamos grupos de Whatsapp para que as sisters possam ir juntas a bloquinhos e outros eventos”, menciona Jussara.

Sororidade

A manauara Elian Wanderley, de 24 anos, aprovou o app. Em sua primeira experiência, alugou um quarto em Belém, no Pará, onde faria um concurso público de magistratura. Apesar da inscrição indeferida, em razão de não possuir tempo suficiente de prática jurídica, a jovem soube aproveitar o momento. Felizmente, a viagem não foi em vão e rendeu uma amizade que sobreviveu a distância.

“Minha experiência foi incrível. Fui recebida pela sister Carol, pela família dela e pelos pets. Ela me levou para uma festa de aniversário de uma amiga em um barco flutuante”, recorda. Com afinidades evidentes, a dupla já tem data para se encontrar novamente. Desta vez, na cidade de Elian.

Cadastro

A advogada faz parte de uma comunidade que, até o momento, agrega 330 mulheres em 120 cidades brasileiras. E a expectativa é de que, logo, ela conecte pessoas em todo o mundo.

“Queremos passar uma mensagem de sororidade. O medo não deve ser ignorado, ele é importante, nos deixa alerta. Vivemos em tempos de assédio e violência à mulher. Mas nossa intenção é dar ferramenta para que as mulheres possam viajar, sozinhas ou acompanhadas, enfrentando esses temores”, enfatiza Jussara.

Interessadas em se cadastrar como hóspedes ou anfitriãs podem fazê-lo no site da SisterWave. É necessário fornecer informações básicas e enviar a imagem de um documento com foto, para verificação. Além disso, o site costuma fazer contato com hosts e visitas para alinhar expectativas.

do site Metrólpes

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