Katherine Johnson, uma das matemáticas que ajudou a colocar a Apollo 11 em órbita, morreu nesta segunda-feira (24), informou a Nasa, agência espacial norte-americana em que ela trabalhou durante 33 anos. O trabalho de Katherine e de outras mulheres afro-americanas ficou desconhecido para o grande público durante anos, até a chegada do filme “Estrelas Além do Tempo” (2016). Katherine tinha 101 anos.
Katherine foi uma das mulheres negras que formavam uma equipe no Centro de Pesquisa Langley para calcular a trajetória dos primeiros lançamentos espaciais. Essas operações hoje são feitas por computadores, mas nos anos 1960 os “computadores usavam saias”, segundo suas palavras, recolhidas em vários documentos que a Nasa dedica à cientista especial em seu site na internet.
Foram seus cálculos que ajudaram a missão Apolo 11 a ter sucesso e Neil Armstrong a pisar na Lua (1969),e que estabeleceram a trajetória da primeira viagem ao espaço de um norte-americano, Alan Shepard (1961).
Quando a Nasa começou a usar computadores para a missão em que John Glenn orbitou a Terra pela primeira vez (1962), Katherine foi consultada para verificar os cálculos da máquina. “Se ela diz que são bons, então estou pronto para ir”, disse o astronauta, segundo lembrou a própria Katherine. De fato, a Nasa reconhece em seu site que “não teria sido possível fazer essas coisas sem Katherine Johnson e seu amor pela matemática”.
“A família da Nasa nunca esquecerá a coragem de Katherine Johnson e os feitos que não
conseguiríamos alcançar sem ela. Sua história e sua graça continuam a inspirar o mundo”, afirmou
Jim Bridestine, administrador da Nasa.
Estudiosa e líder nata
Katherine foi uma menina curiosa e brilhante, nascida em 26 de agosto de 1918 em White Sulphur Springs (Virgínia, EUA), que aos dez anos já cursava o ensino médio.
Entrou para a Universidade Estadual de West Virginia onde se graduou em Matemática e Francês com honras máximas em 1937 e aceitou um trabalho como professora em uma escola pública para negros.
“Sempre estava cercada de gente que estava aprendendo coisas, eu adoro aprender. Você aprende se quiser”, afirmou.
A vida tomaria um novo rumo para Katherine quando em 1952 um parente lhe disse que havia vagas na seção de computação da ala oeste (onde trabalhavam os afro-americanos) do Laboratório Langley da Naca – a agência que antecedeu a Nasa, Por isso, ela e seu marido decidiram se mudar para Hampton, na Virgínia.
Mulher decidida e com habilidades de liderança, Katherine não se limitou a fazer cálculos, mas pediu para participar das reuniões com os engenheiros, algo inédito para uma mulher e afro-americana, mas finalmente o conseguiu, o que lhe abriu o caminho e fez com que ganhasse o respeito de seus colegas.
A questão racial
Eram os anos 1950 e haviam leis de segregação racial nos EUA, mas Katherine garante que “não tinha tempo para isso”, lembrando que o pai lhe ensinou: “você é tão boa como qualquer um nesta cidade, mas não é melhor”.
Katherine também não sentiu a segregação em seu trabalho. “Lá você pesquisava. Tinha uma missão e trabalhava nela”, afirmou. No entanto, quando ela começou a trabalhar com brancos, seus colegas exigiram que ela usasse uma cafeteira diferente.
Essa é uma das histórias do livro “Hidden Figures”, de Margot Lee Shetterly, no qual se baseou o filme “Estrelas Além do Tempo”, e que tirou Katherine e duas de suas companheiras, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, do anonimato.
Katherine trabalhou no centro Langley até 1989, tempo durante o qual participou de projetos como o da nave Space Shuttle e foi autora e coautora de mais de 20 relatórios científicos.
Homenagens
Sua longa carreira foi homenageada em 2015, quando, já com 97 anos, ela recebeu das mãos do então presidente Barack Obama a Medalha da Liberdade, a condecoração civil mais importante do país. Além disso, no ano passado, a Nasa deu seu nome a um novo centro de pesquisa computacional.
Mesmo que sem ser atingida tão diretamente pelas questões raciais e pelo machismo, Katherine foi uma figura histórica. Seu legado de mulher negra possibilitou que outras meninas negras pudessem sonhar com um futuro mais promissor e menos violento.
da redação, com UOL