Já falamos aqui que o Carnaval 2020 foi das mulheres e de resistência, inclusive postamos nossas escolhidas como as Rainhas do Carnaval.
Os desfiles das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro foram puro manifesto, com toques de deboche apaixonantes. Com o resultado das campeãs, nossa opinião foi referendada.
A Unidos do Viradouro, escola de samba de Niterói, é a campeã do carnaval do Rio de Janeiro. A disputa foi acirrada e com reviravoltas. A apuração, no final da tarde desta quarta-feira (26), terminou com empate com a Grande Rio, na pontuação.
A escola foi premiada por seu enredo que trouxe a história de lavadeiras escravizadas no século 19 – e levou o título por ter melhor pontuação no quesito evolução, o segundo no critério de desempate, já que no primeiro, harmonia, também houve igualdade nas notas válidas. Estácio de Sá e União da Ilha do Governador foram as rebaixadas.
A força da mulher negra foi o tema do samba que mostrou lavadeiras de Itapuã, na Bahia. Mulheres escravizadas que vendiam comida e lavavam roupas na Lagoa do Abaeté, em Salvador. Com o dinheiro, compravam a liberdade de outras mulheres escravizadas. Sororidade no século passado? Tínhamos.
O samba-enredo de Dadinho, Fadico, Rildo Seixas, Manolo, Anderson Lemos, Carlinhos Fionda e Alves fala do grupo musical baiano que surgiu dos cantos, danças, crenças e da força daquelas lavadeiras.
Em São Paulo ganhou a Escola Águia de Ouro, numa homenagem o Poder do Saber, com referências à Paulo Freire e Geraldo Vandré. O sinistro Abraham Weintraub deve ter chorado lágrimas de erros de ortografia.
Aqui em João Pessoa, a escola campeã foi a Unidos do Róger, que homenageou a querida Fernanda Benvennuty. Homenagem justíssima para nossa ativista que ainda sonhava em desfilar esse ano. E quem disse que ela não estava lá?
Carnaval politizado
O teor crítico do samba da Mangueira foi um dos grandes destaques deste carnaval. A agremiação trouxe uma visão moderna de Jesus Cristo, como mulher, negro, índio e periféricos. A vida de Cristo ainda teve uma votação impecável no quesito enredo. Evelyn Bastos, Rainha de Bateria da escola, brilhou muito representando um Jesus mulher.
Intitulado A Verdade vos fará Livre, o samba da Mangueira fez críticas à repressão policial, ao genocídio da população negra periférica, e o racismo.
O presidente Jair Bolsonaro também foi criticado na letra do samba, o que despertou críticas do próprio chefe do Executivo e de bolsonaristas radicais. O choro é livre, presidente.
Já a Mocidade fez uma grande homenagem a uma das maiores sambistas e cantoras do Brasil, Elza Soares. O samba Elza deusa Soares levantou a torcida. “É sua voz que amordaça a opressão”, cantavam mulheres do carro de som, entonando um samba que exaltou a luta feminista de Elza. No quesito enredo, que analisa como a história foi contada na avenida, a Mocidade também teve uma votação expressiva.
E não podemos esquecer do Marcelo Adnet imitando o Bolsonaro na São Clemente. As ‘flexões de pescoço” foram geniais.
Taty Valéria, com informações da Rede Brasil