A Comissão para Igualdade de Gênero da África do Sul está investigando denúncias de 48 mulheres que dizem ter sido esterilizadas sem consentimento em hospitais públicos do país. De acordo com a investigação, elas tiveram seus úteros removidos ou passaram por procedimento de laqueadura após dar à luz ao primeiro filho. Há casos que vão até o ano 2001. As informações são da BBC Brasil.
Uma das denunciantes é a sul-africana Msibi Bongekile. Ela afirma que só descobriu não ter mais o útero depois que tentou engravidar pela segunda vez, 11 anos depois do nascimento da primeira filha. Ela tomava anticoncepcional durante todo esse período, por isso não achava anormal não menstruar. Ficou noiva e queria ter outro filho. Quando foi ao médico, descobriu a notícia. “Ele me examinou, me fez sentar, me deu um copo de água e me disse que eu não tinha útero. Foi muito cruel”, lembrou.
Depois disso, ela procurou a imprensa e o Ministério da Saúde. Segundo Msibi, o médico que estava no dia do parto nem sequer pediu desculpas à ela. “Ele disse que tinha me esterilizado para salvar minha vida”, completa.
Ter, ou não, filhos deve ser uma escolha da própria mulher, de ninguém mais.
A sul-africana ainda relata que outras mulheres foram esterilizadas de forma forçada por serem portadoras do HIV, mas ela não é. “Meu útero foi removido sem eu saber. Eu não sei por que fizeram isso”, reitera. Msibi disse que a notícia mudou a vida dela. “Acabei terminando com meu noivo, porque ele queria muito ter filhos e eu não poderia lhe dar isso”, conclui.
Ela pede à Justiça que o hospital ao menos pague por uma barriga de aluguel para que ela realize o sonho de dar um irmão à filha. “Eu ainda tenho ovários, então acho que o hospital deveria pagar. Eu quero que alguém seja responsabilizado”, observa.
De acordo com a BBC, o Ministério da Saúde da África do Sul ainda não deu uma resposta para a Comissão – que teve seu trabalho dificultado pelo “desaparecimento” de prontuários. No entanto, o ministro da Saúde, Zweli Mikhize, aceitou reunir-se com os representantes do grupo e das mulheres para discutir os casos.
Como é de praxe em outros países, a lei sul-africana determina que só mulheres adultas possam permitir a própria esterilização. O procedimento, além disso, precisa ser explicado de forma clara, incluindo todos os riscos, e só pode ser feito após autorização assinada. Caso a mulher não consinta ou desista da esterilização, ela pode voltar atrás da sua decisão em qualquer momento.”
Gazeta do Povo