A angústia dos franceses aumenta com a morte de uma adolescente de 16 anos, Julie, vítima do novo coronavírus. Ela morreu na terça-feira (24) no Hospital Necker de Paris, especializado em doenças infantis, 24 horas depois de ser hospitalizada com insuficiência respiratória.
Julie, moradora de Essone, subúrbio ao sul da capital, era saudável até desenvolver a Covid-19. Ela não tinha outras patologias conhecidas, segundo a família, e é a primeira menor a morrer na França desde o início da pandemia. “Nunca teremos uma resposta”, diz Sabine, mãe da adolescente. “É um choque perder um filho, a vida perde o sentido, mas temos a obrigação de continuar”, afirma inconsolável. Ela não se conforma que médicos e autoridades continuem a afirmar que os jovens não morrem dessa doença.
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Em entrevista ao jornal Le Parisien, a irmã de Julie, Manon, alerta que “ninguém é invencível perante esse vírus mutante”. Ela e a mãe estão confinadas em casa. Manon conta que Julie tinha uma tosse leve até a semana passada. Mas os sintomas se agravaram no fim de semana, quando ela desenvolveu uma secreção intensa nas vias respiratórias e começou a perder o fôlego. Na segunda-feira (23), a adolescente fez uma consulta com um clínico geral, o médico de referência no sistema público de saúde, que constatou o comprometimento dos brônquios. “Ela não tinha outras doenças”, garante a irmã.
Dois testes negativos
No mesmo dia, a jovem foi hospitalizada em uma unidade de Essone. Um teste diagnóstico da Covid-19 foi realizado. Mas, antes da obtenção do resultado, os sintomas se agravaram e Julie foi transferida, durante a madrugada, para o Hospital Necker, no 15° distrito de Paris. Dois novos testes foram feitos no Necker e deram negativo, conta a mãe da adolescente. Julie permaneceu internada sem assistência respiratória. Porém, um telefonema do primeiro hospital revelou que o primeiro teste realizado por Julie deu positivo. Os médicos do Necker imediatamente colocaram a menor sob ventilação, mas seus pulmões não resistiram.
Quando a mãe e a irmã da menor chegaram ao hospital, já era tarde demais. Julie tinha morrido. “Foi violento. Tivemos tempo de vê-la, mas depois tudo aconteceu muito rápido. Por causa das circunstâncias da epidemia, o protocolo para o enterro é muito rigoroso. Sei que é complicado, mas um pouco mais de humanidade é necessário”, disse abalada a mãe de Julie ao Le Parisien.
O corpo da adolescente será sepultado na próxima segunda-feira, na presença de no máximo dez pessoas, como prevê um decreto do governo. Os amigos da adolescente previram uma homenagem na escola no dia 4 de maio, quando está inicialmente prevista a volta às aulas. Eles pretendem construir um memorial, fazer um minuto de silêncio e uma marcha branca e vermelha. Segundo uma colega de classe, o branco é uma referência ao bom humor de Julie, enquanto o vermelho era a cor preferida da estudante.
Da Época