Um novo estudo publicado pela Revista Brasileira de Enfermagem entrevistou agressores de mulheres e chegou a duas importantes conclusões. Primeiro, de que os homens se sentem injustiçados e vítimas das ex-companheiras e da Lei Maria da Penha e, segundo, que eles têm um histórico de violência na infância.
Segundo a pesquisadora Alexandra Bittencourt Madureira, da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), que esteve à frente do levantamento, a sensação de serem injustiçados e vítimas se dá porque afirmam que as denúncias não são reais e por acreditaram que a lei olha apenas o lado das mulheres.
Isso acontece porque os agressores não têm noção de que o que cometeram é um ato violento, segundo Alexandra, principalmente quando se trata de violência psicológica ou moral, presente na maioria dos casos.
“No entendimento deles, um xingamento não é uma agressão”, explica a pesquisadora, embora esse tipo de atitude seja considerada violência doméstica pela Lei Maria da Penha. “Mesmo quando há contato físico, eles demonstraram avaliar como de menor importância. Como um empurrão.”
A pesquisa foi feita de maneira qualitativa, com entrevistas e análise dos depoimentos dos agressores. Participaram 12 homens, entre 18 e 59 anos, denunciados de 2015 a 2016.
Em relação a traumas na infância, os homens contaram ter acompanhado tanto casos de agressão do pai contra a mãe como terem sido, eles mesmos, as próprias vítimas, quando crianças.
“A relação do meu pai com a minha mãe era terrível. Meu pai batia muito na minha mãe. Tanto violência física como violência verbal”, afirmou um entrevistado.
“A violência doméstica se apresenta como uma condição crônica, que se propaga de geração em geração nas famílias”, afirma Alexandra.
“Citamos inúmeros estudos na pesquisa evidenciando que, quando a criança é submetida à violência na infância, terá maior probabilidade de adotar um comportamento violento na resolução de conflitos na vida adulta.” E a reprodução do comportamento quando mais velho, salienta a pesquisadora, se dá não apenas com a companheira, mas também com os próprios filhos.
Pesquisas podem basear políticas públicas
Segundo Alexandra, é importante que os agressores sejam ouvidos para que se criem políticas públicas voltadas para eles e, com isso, seja possível diminuir os índices de violência doméstica.
“Uma medida que tem se mostrado importante são os grupos para trabalhar com autores de violência, visando uma mudança em sua percepção nas suas relações de gênero e no comportamento diante dos conflitos domésticos”, diz Alexandra.
“Mas, para além dos homens, que já praticaram e praticam a violência, se deve também trabalhar com crianças e jovens, para ensiná-los sobre relações saudáveis, atuando, assim, na prevenção.”
Do Universa