Não bastassem os riscos de aumentarem os casos de violência doméstica; a sobrecarga do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças e idosos; a renda prejudicada pra quem é trabalhadora doméstica e autônoma, as mulheres ainda podem sofrer com mais uma consequência da pandemia: a diferença salarial entre homens e mulheres deve aumentar significamente.
No mundo, as mulheres ganham, em média, um quinto do que ganham os homens (mesmo tendo a mesma qualificação e desempenhando a mesma função). De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), isso é uma consequência de fatores como maternidade, emprego em setores mal-remunerados e o peso dos estereótipos de gênero na hora da promoção. A diferença entre os pagamentos de homens e mulheres vinha sendo reduzida, mas na velocidade atual, levará cerca de 70 anos para que a paridade de gênero aconteça, diz a ONU Mulheres.
Mas, essa grave diferença salarial pode aumentar em 2020, já que as mulheres são afetadas de maneira desproporcional pelas responsabilidades com a casa durante a quarentena, além de que trabalhos mal-remunerados, como os domésticos, estão desaparecendo, afirma Anita Bhatia, secretária-geral assistente e ex-diretora executiva da ONU Mulheres.
A crise econômica causada pela pandemia de coronavírus pode resultar na perda de mais de 25 milhões de postos de trabalho, de acordo com a OIT. A Catalyst, uma organização sem fins lucrativos baseada nos EUA, afirma que as pesquisas mostram que quando as empresas diminuem de tamanho, a diversidade se torna secundária, com mulheres e pessoas negras sendo as mais atingidas. Tanya van Biesen, diretora da Catalyst, diz temer que os progressos feitos nas últimas décadas seja perdido porque setores como turismo e hospitalidade, que tem grande parte da força de trabalho composta por mulheres, serão gravemente atingidos.
No Brasil, a igualdade de salários avança a passos lentos. Em 2004, as mulheres ganhavam 70% do que recebiam os homens. Em 2018, elas passaram a ganhar 79,5% do que eles ganhavam. Esse aumento é mais um resultado da maior escolaridade das mulheres do que de políticas públicas ou das empresas. As mulheres cavaram um espaço no mercado de trabalho, mesmo que ainda seja mais na área de cuidados, cuja remuneração é menor.
da redação, com o Globo