Com mais de 10 mil casos de coronavírus e 170 mortes até sexta-feira (3), a Coreia do Sul é um dos exemplos no enfrentamento à pandemia. Um dos motivos é o uso de tecnologia para monitorar casos suspeitos e rastrear as pessoas infectadas, usando celulares e satélites. Assim, foi possível detectar um dos principais vetores de contágio: a paciente 31. E essa história é prova incontestável do que o fanatismo religioso e a ignorância são capazes em termos de destruição.
Segundo reportagem da agência Reuters, esta paciente foi uma mulher de 61 anos que teve contato com 1.160 pessoas na fase de contágio da doença, e estima-se que infectou mais de 5.000 pessoas direta e indiretamente. Ela foi a principal responsável pelo maior epicentro da covid-19 no país e o segundo fora da China, na cidade de Daegu.
Fase 1: misturou-se ao público
Não ficou claro onde a paciente 31 contraiu a doença, mas, dias antes do diagnóstico, ela frequentou lugares públicos na cidade e na capital, Seul.
6 a 9 de fevereiro
Ela foi internada em uma clínica de medicina oriental em Daegu, após sofrer um pequeno acidente de trânsito. Enquanto estava lá, saiu três vezes, sendo a primeira delas no dia 9, para ir à igreja.
Fase 2: a suspeita negligenciada
15 de fevereiro
Os médicos sugeriram que ela fosse testada para o coronavírus, devido a uma febre persistente. Em vez disso, a mulher foi almoçar com uma amiga em um hotel e, no dia seguinte, foi novamente à igreja.
17 de fevereiro
Com sintomas mais severos, ela fez o teste em um hospital, se tornando o 31º caso confirmado na Coreia do Sul – daí o nome.
Fase 3: a doença se espalha
Logo, o número de infectados aumentou bruscamente no país. Em dez dias já eram mais de 2.000 doentes, a grande maioria membros da igreja Shincheonji – a que a mulher frequenta. Cerca de 60% dos casos do país estão relacionados a ela.
18 de fevereiro
O núcleo de infectados da Shincheonji era de 5.016 pessoas, sendo 4.363 na província de Daegu e os outros em cidades vizinhas, que também frequentaram a igreja.
Outros focos
Há outros pequenos grupos de contágio religiosos no país, como 49 peregrinos de Israel e 50 pessoas da igreja Grace River, que dividiram um spray “purificador” de água salgada.
Outros focos significativos vêm de uma empresa de call center em Seul (134 infectados), de uma academia em Cheonan (104), de dois hospitais (119 e 74) e de um asilo (60).
Lee Man-hee, 88 anos, o líder da igreja Shincheonji, também teve sua parcela de culpa na história. Ele chegou a dizer a seus seguidores que “esse surto de doença é obra do diabo, que está decidido a conter o rápido crescimento da Shincheonji”.
Depois, Man-hee pediu desculpas publicamente pelo papel da igreja no espalhamento da doença.
Durante os cultos, não era permitido que as pessoas usassem máscaras, e as orações eram feitas com intenso contato físico. O governo da região metropolitana de Seul abriu um processo contra a congregação.
Por aqui, ainda precisamos lidar com os Silas Malafaias e os Edir Macedos que usam do seu poder de persuasão para surrupiar dinheiro de pessoas pobres. Sempre foi assim, mas agora o que se coloca em risco é a saúde e a vida dessas pessoas, e da nossa também.
da redação, com informações do UOL