Seguindo a tendência da atualidade, o cantor Gusttavo Lima realizou uma live no último sábado, dia 11 de abril. Não assistimos e não sentimos falta. Na verdade esse nome vez por outra aparece, mas a redação do Paraíba Feminina não perdeu 1 segundo sequer da sua existência para saber de quem se trata.
O fato é a repercussão da live do cantor gerou muitos comentários, em sua maioria, negativos. Como não acompanhamos a apresentação, não nos cabe fazer juízo de valor. Mas nos deparamos com a matéria feita por Marcela De Mingo, para o Yahoo, e descobrimos os motivos do nosso ranço antecipado. Acompanhe:
“O verdadeiro guerreiro, em épocas de crise, sempre suja a sua espada”. Esse foi apenas um dos comentários machistas que rechearam a última live de Gusttavo Lima na internet. Se você não entendeu de cara, a gente explica: em dado momento da apresentação, ele comparou a sua bebida à menstruação feminina e soltou, em seguida, a frase que encabeçou esse texto. “Não seja covarde”, completou ele.
De fato, Gusttavo é um dos maiores nomes da música sertaneja no Brasil, e suas apresentações ao vivo pelo YouTube no período de quarentena estão angariando centenas de milhares de visualizações simultâneas – dizem que os números o deixariam em segundo lugar de audiência, se o show fosse feito na televisão.
Mas, a que custo? Já não é de hoje que a internet reclama dos muitos comentários que o sertanejo faz nos seus shows e entrevistas e, no último final de semana, não foi diferente. A live, que durou mais de cinco horas, contou com uma chuva de comentários desnecessários – e gerou até uma investigação por parte do Conar, por conta do consumo indiscriminado de bebidas alcóolicas em uma apresentação ao vivo e de fácil acesso à menores de idade.
“Aqueles mosquitinhos pequenininhos, aqueles ‘boceteros’, aqueles cu de cachorro”, disse em outro momento. Aliás, o termo “boceta”, considerado bastante pejorativo, foi falado aos montes durante o evento, que aconteceu na casa do músico, em Goiás. Depois, ao passar álcool gel nas mãos, ele comentou como o produto “parecia porra”. Isso sem falar em quando prestou atenção na esposa e comentou que ela estava mais bonita do que de costume.
Gusttavo Lima é machista?
Não é preciso de muito para entender que a visão do músico é, sim, machista. Falar sobre menstruação ainda é um tabu para as próprias mulheres – e em alguns lugares do mundo é o suficiente para tirar as meninas da escola e até gerar casos mais graves de depressão e suicídio.
A base dessas ações extremas e dos comentários de Gusttavo são a mesma: a ideia de que o corpo feminino tem o objetivo de satisfazer os prazeres masculinos a qualquer custo – independentemente do estado em que ele se encontra. Dizer que um homem precisa “ter coragem” para transar com uma mulher menstruada (e ainda soltar um “taca o pau” como incentivo), não só é grosseiro, como desrespeitoso.
Desrespeitoso porque, sim, desrespeita o desejo da mulher da querer ou não transar quando está no período menstrual e, mais ainda, torna a atividade uma prova de coragem, de resistência, como um obstáculo a ser superado – e disseminando ainda uma ideia de masculinidade tóxica.
Usar um termo pejorativo referente ao órgão genital feminino tem o mesmo objetivo: diminuir o corpo da mulher a algo que, no mínimo, é visto com certa repulsa se não atender um padrão específico.
Comentários como esse não estão reservados ao músico, mas ele, como pessoa pública e de grande alcance, tem certa responsabilidade social pela forma como age diante do público – mesmo que esteja na própria casa. Muitos podem usar o argumento de que o cantor bebeu demais e que os comentários, portanto, não devem ser levados a sério – e, realmente, ele bebeu demais durante a transmissão. Mas foi-se o tempo em que era aceitável deixar passar comportamentos como esse.
Essa, inclusive, não é a primeira vez que o músico é acusado de machismo. Durante um show no ano passado, ele reclamou com uma fã que ela estava bebendo “bebida de mulher” e que queria uma “bebida de homem”. A separação entre os gêneros implica uma diferença de força: homens mais fortes e mulheres mais fracos, homens mais dignos e mulheres, menos dignas. Mais uma vez, é uma visão que demonstra superioridade de um lado e inferioridade do outro.
Expor uma mulher pela sua aparência, diminuir uma reação natural do corpo feminino, usar seu órgão genital com conotação pejorativa são ações machistas porque seguem reforçando a ideia da mulher como mero objeto sexual. Alcançando tantas pessoas ao mesmo tempo, em um momento tão delicado da história, poderia-se esperar, no mínimo, que o músico considerasse um pouco mais o que diz antes de abrir a câmera para uma live.
da redação, com Yahoo