O calvário das mulheres de não sucumbir aos devaneios machistas em plena pandemia

By 18 de maio de 2020Lute como uma garota

Desde o início da pandemia causada pelo coronavírus, publicamos matérias e relatos sobre o aumento considerável na carga de trabalho das mulheres.

As mulheres trabalham três horas a mais por semana que os homens. A carga de trabalho, quatro vezes maior, leva em consideração as funções remuneradas, as doméstica e o cuidado com as pessoas da família (filhos e marido). A sobrecarga de trabalho e os resultados profissionais menores ficam ainda mais evidentes em tempos de distanciamento social e com as mulheres assumindo o trabalho profissional e as atividades do lar em tempo integral.

Para a CEO da Sólides, plataforma de RH especializada em gestão comportamental e recrutamento, Mônica Hauck, se não houver nenhum rearranjo doméstico neste momento ou uma reflexão sobre o papel de cada um dentro de casa, em pouco tempo, o home office e a quarentena se tornarão um problema na vida das pessoas, afetando até mesmo a saúde e as relações familiares, pois as mulheres terão uma sobrecarga muito desigual.

A psicóloga Isabella Barreto, que desenvolve um programa de acolhimento de mulheres durante a pandemia (Acolher Psi), lembra que, culturalmente, a mulher é responsável pela nutrição, educação e bem estar da família. “Quando a presença dela em casa fica em tempo integral, ela é automaticamente cobrada a assumir por completo, ou com maior participação, as tarefas domésticas e cobrada a atender todos da família”, pontua, salientando que todos os integrantes de uma família são partícipes das tarefas da casa.

Para a psicóloga, a mudança desse quadro passa pela compreensão que a mulher não precisa de ajuda, mas da participação de todos. “Não é obrigação da mulher fazer mais que os outros. As tarefas e manutenção da casa devem ter a participação de todos que residem permanentemente ou temporariamente, já que todos vão usufruir e se beneficiar dos resultados”, destaca.

Prioridades

Mônica salienta que o lar é uma mini sociedade, por isso mesmo, os rearranjos precisam ser discutidos entre todos os moradores. “Hoje, mulheres e homens trabalham fora e precisam cuidar dos filhos e de casa, logo, as tarefas precisam ser igualmente distribuídas de acordo com a competência de cada um e com o tempo de cada um”, diz.

Para ela, é necessário haver uma priorização de tarefas para que as mulheres mantenham sanidade e produtividade. “A grande questão aqui é entender o que realmente é importante e necessário para assim colocar uma energia proporcional a essa prioridade, entendendo que neste momento, algumas coisas terão de ser deixadas para segundo plano”, diz.

Desafio

A artesã e micro empreendedora Ludmila Vieira faz geladinhos gourmets sob encomenda  e atua como  profissional de saúde. Em tempos de quarentena, ela, o marido e o filho precisam se dividir  entre o trabalho e as atividades domésticas. Ela, como uma boa parte das mulheres, precisou redescobrir uma forma de equacionar vida profissional, empreendedorismo e tarefas do lar. Ela reconhece que é um super desafio  ter que trabalhar tendo uma criança pequena em casa o dia todo, especialmente porque é necessário se organizar pensando no filho. “Ele depende de mim pra ter o mínimo de rotina”, diz.

A diretora do Shopping Bahia Outlet Center, Coordenadora Estadual da Câmara da Mulher Empresária da Fecomércio e  Vice presidente da Associação Comercial da Bahia, Rosemma Maluf, garante que a quarentena é uma ótima oportunidade para mudar essas expectativas sobre o papel da mulher no ambiente doméstico.

“As mulheres são 44% dos chefes de família no Brasil. Estamos falando de direitos humanos e oportunidades iguais. Igualdade é diferente de equidade”, ressalta. Para Rosemma, é o cenário de crenças limitantes da cultura machista que invisibiliza as mulheres e as leva a acreditar que são incapazes ou inferiores.

Isabella diz que não existem fórmulas prontas ou receitas de bolo, mas que a possibilidade de equilibrar esses universos em tempos de quarentena (e fora dela também) passa pelo reconhecimento da necessidade de um tempo para si mesma, para o lazer e para o prazer pessoal. “As crianças possuem uma condição de perceber que a gente, muitas vezes, subestima. Converse francamente com os filhos sobre o tempo de conviver e o de trabalhar. Prefira dar qualidade ao tempo destinado à convivência e chame para a colaboração e o companheirismo nesse período”, conclui.

da redação, com Correio Braziliense

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