Quantos assassinatos são possíveis cometer contra uma única pessoa?
Gabriel Taciano era agente socioeducativo da FUNDAC. Saiu de casa no sábado pela manhã e foi encontrado assassinado na noite do último domingo (17).
Gabriel estava sem roupas. Foi agredido com pedaços de madeira, asfixiado e jogado do alto de uma falésia na praia de Jacarapé. A mobilização nas redes sociais foi intensa ainda no domingo. Contou com a participação de entidades da sociedade civil, parlamentares, partidos políticos e movimentos sociais.
Numa ação rápida das polícias Civil e Militar, o crime foi elucidado ainda na segunda-feira (18).
De acordo com as informações das autoridades, o suspeito (que não teve o nome revelado) tem 23 anos, possuía um relacionamento com Gabriel, que segundo ele, lhe devia R$ 500,00. Ele foi autuado em flagrante delito por crime de homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, sem defesa da vítima e com uso de requintes de crueldade.
Dia desses produzimos uma matéria sobre a subnotificação de crimes homofóbicos na Paraíba, e o assassinato de Gabriel parece ser mais um que irá ficar de fora da estatística.
Nas manchetes dos portais locais, o que ficou foi a dívida: Gabriel morreu porque estava devendo. Ele foi espancado e jogado de uma falésia por conta de uma dívida. Estava nu. É a palavra do suspeito de assassinato contra de alguém que não pode dar sua versão. Por que Gabriel aceitaria se encontrar com ele, num local afastado e deserto, para acertar uma dívida?
O que, de fato, determina se um crime é ou não homofóbico?
Para Eduardo Guimarães, coordenador do Movimento do Espírito Lilás, foi crime de homofobia sim. “A dívida foi colocada como desqualificadora da vítima. A narrativa apresentada não bate com a celeridade com que as informações foram repassadas, elas demonstram especialmente a pressa em descaracterizar a homofobia como fator determinante. Foi um crime de ódio, e esse silêncio é gritante”, afirma.
Ainda de acordo com Eduardo, existem vários elementos contraditórios que precisam ser analisados, e um deles diz respeito justamente à dívida em si. Gabriel era funcionário público, e de acordo com entrevista dada pela mãe da vítima ao JPB 2ª Edição, filiada da TV Globo na Paraíba, era Gabriel quem dava dinheiro regularmente ao assassino, e não o contrário. De acordo com informações recebidas pela redação, o suspeito tem histórico de violência doméstica, é ex presidiário, e não tinha emprego fixo.
Sim, o suspeito já está preso, mas algumas perguntas ainda precisam ser respondidas. O nome e a história de Gabriel precisam ser honradas. Tratar o crime como acerto de dívidas depõe contra a vítima, e essa falha precisa ser reparada.
Taty Valéria