Queremos saber! A quem interessa transformar um crime homofóbico em um assassinato por dívida?

By 19 de maio de 2020Machismo mata

Quantos assassinatos são possíveis cometer contra uma única pessoa?

Gabriel Taciano era agente socioeducativo da FUNDAC. Saiu de casa no sábado pela manhã e foi encontrado assassinado na noite do último domingo (17).

Gabriel estava sem roupas. Foi agredido com pedaços de madeira, asfixiado e jogado do alto de uma falésia na praia de Jacarapé. A mobilização nas redes sociais foi intensa ainda no domingo. Contou com a participação de entidades da sociedade civil, parlamentares, partidos políticos e movimentos sociais.

Numa ação rápida das polícias Civil e Militar, o crime foi elucidado ainda na segunda-feira (18).
De acordo com as informações das autoridades, o suspeito (que não teve o nome revelado) tem 23 anos, possuía um relacionamento com Gabriel, que segundo ele, lhe devia R$ 500,00. Ele foi autuado em flagrante delito por crime de homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, sem defesa da vítima e com uso de requintes de crueldade.

Dia desses produzimos uma matéria sobre a subnotificação de crimes homofóbicos na Paraíba, e o assassinato de Gabriel parece ser mais um que irá ficar de fora da estatística.

Nas manchetes dos portais locais, o que ficou foi a dívida: Gabriel morreu porque estava devendo. Ele foi espancado e jogado de uma falésia por conta de uma dívida. Estava nu. É a palavra do suspeito de assassinato contra de alguém que não pode dar sua versão. Por que Gabriel aceitaria se encontrar com ele, num local afastado e deserto, para acertar uma dívida?

O que, de fato, determina se um crime é ou não homofóbico?

Para Eduardo Guimarães, coordenador do Movimento do Espírito Lilás, foi crime de homofobia sim. “A dívida foi colocada como desqualificadora da vítima. A narrativa apresentada não bate com a celeridade com que as informações foram repassadas, elas demonstram especialmente a pressa em descaracterizar a homofobia como fator determinante. Foi um crime de ódio, e esse silêncio é gritante”, afirma.

Ainda de acordo com Eduardo, existem vários elementos contraditórios que precisam ser analisados, e um deles diz respeito justamente à dívida em si. Gabriel era funcionário público, e de acordo com entrevista dada pela mãe da vítima ao JPB 2ª Edição, filiada da TV Globo na Paraíba, era Gabriel quem dava dinheiro regularmente ao assassino, e não o contrário. De acordo com informações recebidas pela redação, o suspeito tem histórico de violência doméstica, é ex presidiário, e não tinha emprego fixo.

Sim, o suspeito já está preso, mas algumas perguntas ainda precisam ser respondidas. O nome e a história de Gabriel precisam ser honradas. Tratar o crime como acerto de dívidas depõe contra a vítima, e essa falha precisa ser reparada.

Taty Valéria

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