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Aconteceu em 21 de março.
Uma moça, que não quis ser identificada por temer retaliações, acionou a polícia porque estava sofrendo agressões físicas do próprio irmão. Ao chegar na casa que ela divide com esse irmão, e com os pais, a polícia fez aquilo que nós ja estamos acostumadas a presenciar: deu razão ao homem. Indignada, a moça respondeu aos PM’s com um irônico “muito obrigada pela ajuda”.
Nesse momento, um dos PM pega a moça pelo braço com rispidez, a agride com um cassetete, joga a moça no porta malas do camburão. Ela estava só de pijamas e chinelos, sem nenhum documento nem celular. Na delegacia, a jovem conta que foi impedida pelo escrivão de registrar o boletim de ocorrência por violência doméstica contra o irmão e o de lesão corporal contra o policial. Eles, por outro lado, conseguiram fazer a denúncia por desacato.
O servidor público de plantão teria alegado que a delegacia estaria fechada para BOs presenciais. A vítima conseguiu o registro somente no dia seguinte quando procurou a Delegacia da Mulher.
Não fossem imagens captadas pelas câmeras de segurança de um estabelecimento que é vizinho à casa, ficaria a palavra dela contra a dos policiais, e nós sabemos qual seria o desfecho.
“Se não tivesse a filmagem, eu seria só mais uma.”, afirma a jovem, que é técnica em radiologia.
O fato aconteceu na noite de 21 de março, em Presidente Prudente, a 557 quilômetros de São Paulo, mas o vídeo que registra a agressão policial veio à tona apenas no início deste mês.
A vítima não quis detalhar a violência doméstica para preservar os pais, mas considera que, apesar de ter sido agredida pelo irmão naquele dia, o sentimento de injustiça provocado pela ação dos policiais é o que causa maior indignação.
“Quem me agrediu mais foi meu irmão, porém ser agredida por um policial foi o que pesou mais em mim. O que me deixou mais indignada foi a ação do policial, sem dúvida”, diz.
“Com todos esses fatos acontecendo em um curto período de tempo, um atrás do outro, além do sentimento de injustiça que já dói muito, fiquei em choque. Não dava para acreditar no que estava acontecendo. Era para me ouvirem, e não me baterem.”
“Minha versão jamais seria considerada se não tivesse sido filmado. Continuo atrás [de justiça] porque tem essa filmagem, caso contrário já teria desistido. Agora, eu sei como é difícil buscar a justiça dentro do meio que deveria ser justo com você. Se não tivesse a filmagem, eu seria só mais uma”, diz.
A técnica em radiologia revela que a dupla violência sofrida provocou traumas, como dificuldade para dormir e medo de sair às ruas pelo fato de os policiais não terem sido afastados.
“Não consigo mais dormir direito. Deito às 6h e acordo duas ou três horas depois. Um dia desses, eu acordei pensando que tinha um homem no meu quarto”, conta.
Policiais são denunciados por nove crimes
O caso gerou uma notícia-crime da defesa da jovem contra os quatro policiais militares envolvidos na ocorrência e o escrivão que recusou o registro das denúncias da vítima.
Eles são apontados pela defesa no Ministério Público pelos crimes de “prevaricação, lesão corporal, cárcere privado, abuso de autoridade, omissão de socorro, coação, falsificação de documento público e associação criminosa, porque eram quatro policiais e mais o escrivão que a atendeu”, explica a advogada Camila Brito.
“Ele pressiona a vítima contra a viatura usando a força do corpo, e isso não pode ser feito por um policial homem. Deveria ser por um agente de estado do mesmo sexo. Acreditamos que também pode ser apurado o ato de importunação sexual”, diz Ana Letícia Belo, advogada que também acompanha o caso.
As denúncias da jovem também são acompanhadas pelo coletivo Pela Vida das Mulheres, de Presidente Prudente. Em nota, o grupo “expressa o mais profundo repúdio e externa consternação com a postura truculenta e desproporcional dos quatro policiais militares na abordagem com a vítima de violência doméstica”.
O coletivo afirma ainda que o vídeo “causa repulsa, dor, indignação”, já que a vítima sofreu violência de “quem tem o dever de proteger e zelar pelo bem-estar da sociedade”.
O grupo ainda acredita que o caso é reflexo da “violência baseada em gênero, tão enraizada na sociedade brasileira” e que também atinge “o campo policial e repercute no comportamento dos profissionais”.
Questionada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou que “o desacato e o
possível abuso de autoridade são investigados pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) do município e também pela Polícia Militar, que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apuração dos fatos”. E só.
da redação, com informações do Universa