Aumento da fome, abuso sexual, violência física e psicológica, dificuldade no ensino remoto: alguns dos problemas que crianças e adolescentes do Nordeste estão enfrentando durante a pandemia do coronavírus. A conclusão faz parte da primeira nota técnica da Frente de Trabalho Nordeste Criança, no âmbito do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste).
Desenvolvida pelos pesquisadores Saimonton Tinôco e Ana Luisa Amorim, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a nota técnica é um dos produtos do Projeto Mandacaru, plataforma de colaboração virtual e que faz parte do trabalho de mapear as condições das crianças nordestinas durante e após a pandemia, para sugerir estratégias que subsidiem a construção de políticas públicas.
De acordo com Saimonton Tinôco, há realidades específicas em cada estado do Nordeste, mas as necessidades se aproximam em muitos contextos. Segundo a professora Ana Luisa, as crianças pertencentes às famílias mais carentes no Nordeste, no contexto desta pandemia, têm dificuldades de diversas ordens.
“Há crianças passando fome e sofrendo violências físicas, sexuais e psicológicas. No campo do acesso à educação, precisamos afirmar que, na Educação Infantil, não é possível falar em ensino remoto”, assegura.
A pesquisadora explica que as ações para essas crianças precisam da manutenção de vínculos e o contato frequente com suas famílias. “Nosso trabalho deve ser muito mais no sentido de acompanharmos as condições às quais as crianças estão submetidas”.
Já no que se refere aos anos iniciais do Ensino Fundamental, o professor Saimonton afirma que há instituições educativas que estão desconsiderando as especificidades dessas crianças, ignorando, por exemplo, que o tempo em que elas estarão na frente da tela de um computador seja prejudicial para determinadas idades, além das crianças com deficiência, para quais não tem sido pensado quase nada
Ainda de acordo com o pesquisador, garantidas as necessidades básicas e essenciais das crianças e adolescentes, é preciso pensar sobre as condições necessárias para o retorno progressivo às atividades presenciais, mesmo sem se saber ainda quando isso será possível.
“Nesta semana, por exemplo, tenho me debruçado sobre como as unidades escolares podem pensar o retorno às atividades presenciais no período pós-quarentena, com acolhimento, segurança e intencionalidade. Esse é um dos grandes desafios da escola atual, para o qual não fomos preparados e nunca tínhamos imaginado que teríamos que lidar com ele”, avalia o professor.
Segundo o docente, “não se trata de acelerarmos esse processo de volta, expondo precipitadamente as crianças a contextos de risco, mas de não deixarmos para a última hora a proposição de ações educativas, como costuma acontecer em nosso país”.
A Frente de Trabalho Nordeste Criança é formada por representantes de todos os estados do Nordeste vinculados aos Fóruns de Educação Infantil que integram o Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB).
da redação, com UFPB